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Papa: marxismo não corresponde à realidade

Larissa Garcia/ Rodrigo Craveiro- Correio Braziliense

Em  crítica surpreendente ao comunismo instalado em Cuba, o papa Bento XVI  declarou: “Hoje, é evidente que a ideologia marxista, na forma que foi  concebida, já não corresponde à realidade”. A bordo do avião da  companhia Alitalia, durante a viagem ao México, ele afirmou que a Igreja  Católica está pronta para auxiliar a encontrar novas maneiras de  avançar politicamente, “sem traumas”. “Novos modelos devem ser  encontrados com paciência e de forma construtiva (…). Nós queremos  ajudar”, acrescentou.

O pontífice alemão desembarcará em Havana,  capital cubana, na segunda-feira, e será recebido pelo presidente, Raúl  Castro. O objetivo da segunda visita à América Latina é reforçar a  evangelização em Cuba e no México, países que experimentam um forte  aumento do protestantismo. O líder católico também criticou o  narcotráfico mexicano. “É preciso desmascarar o mal e a mentira.”

Como  resposta à declaração do papa, o ministro das Relações Exteriores de  Cuba, Bruno Rodriguez, afirmou que o governo vai “ouvir, com todo o  respeito, a Vossa Santidade”. “Respeitamos todas as opiniões. (…)  Nosso povo tem convicções profundas”, disse. Ele acrescentou que o país  considera “útil a troca de ideias” e garantiu que na ilha existe  “democracia e liberdade”. “O projeto social está aberto à troca”, disse.

Rodríguez  aproveitou para mandar um recado aos opositores. “Quem pretende  manipular a visita a Cuba de Sua Santidade Bento XVI por motivos  políticos, fracassará. O papa encontrará um povo patriota, vigoroso,  instruído e convencido de seu projeto social e de sua democracia  genuína”, declarou o ministro, citado pelo diário Juventud Rebelde.

Em  entrevista por telefone ao Correio, a blogueira cubana Yoani Sánchez  recebeu as declarações de Bento XVI com alívio e esperança. “Estamos  vivendo dias de muita repressão. Essas palavras lançam luz sobre as  hostilidades do discurso do regime”, admitiu. “No entanto, eu gostaria  que essas mesmas palavras fossem ditas nas missas e homilias que o papa  celebrará em Cuba. Sobretudo, que elas se transformassem em ações  concretas”, acrescentou. Apesar de respeitar a opinião do pontífice,  Yoani discorda da visão sobre o marxismo fracassado. “Aqui em Cuba, não  existe socialismo nem comunismo. Existe um capitalismo familiar, de  clãs. O regime deve mudar, sem traumas, mas para obedecer a um sistema  mais democrático e inclusivo”, admitiu.

O presidente da Comissão  Cubana dos Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, Elizardo Sánchez,  foi ainda mais incisivo em relação ao regime. “Realmente, em Cuba não  existe comunismo. Para falar a verdade, trata-se, simplesmente, de uma  ditadura totalitária, que usa a bandeira marxista como fachada”,  criticou. “A declaração do papa confirma a boa vontade da Igreja  Católica, tanto cubana quanto do Vaticano, para fazer com que a situação  melhore”, completou. O dissidente é pessimista em relação à mudança  política em seu país e não crê que a transformação seja interessante  para o governo.

México

Em meio à crescente violência do  narcotráfico, o papa Bento XVI desembarcou ontem no México. Desde 2006,  mais de 50 mil pessoas foram assassinadas no país, quando o presidente  Felipe Calderón mobilizou soldados e policiais federais para combater o  crime organizado. Preocupado com a segurança da autoridade máxima do  Vaticano, o governo reforçou o policiamento em alguns pontos do Estado  de Guanajuato, onde o papa ficará hospedado. Bento XVI anunciou que  pedirá o fim dos assassinatos.

Moradores da cidade de León, em  Guanajuato, enfeitaram as ruas com bandeiras do Vaticano e faixas de  boas-vindas. O México abriga mais de 1,2 milhão de católicos. Amanhã, o  papa celebrará uma missa na Colina do Cubilete e se reunirá com bispos. A  expectativa é de que o estado receba mais de 769 mil turistas. A guerra  ao narcotráfico começou durante o primeiro ano do mandato de Calderón.  Na terça-feira, 12 polícias foram mortos no oeste do país, enquanto  investigavam a decapitação de 10 mexicanos.

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