Palmeira dos Índios e o Brasil

Paulo Silva Pinto- Correio Braziliense

Cidade de 70 mil pessoas no agreste alagoano, Palmeira dos Índios tem fama bem superior ao tamanho. Faz tempo. Em 1927, Graciliano Ramos, então com 35 anos, foi eleito prefeito. Dois anos depois renunciou ao mandato, mas não sem aproveitá-lo para experiências políticas, sociais e literárias. Saiu contando que soltou os presidiários e botou-os para construir estradas. Os relatos chegaram ao Rio, mais precisamente ao poeta e editor de livros Augusto Frederico Schmidt. Ele incentivou Graciliano a voltar para a máquina de escrever e partir para uma empreitada mais robusta. Daí nasceu Caetés, o primeiro livro do escritor. Embora seja uma obra ficcional, traz várias referências ao cotidiano de Palmeira dos Índios.

Na sexta-feira da semana passada, a cidade ganhou notoriedade novamente por razão bem menos alvissareira. O candidato a vereador Luiz Ferro foi preso em flagrante pela Polícia Federal sob acusação de compra de votos. Quando foi secretário municipal, Ferro era responsável pela distribuição de casas do programa Minha Casa Minha Vida. Por meio de mandado de busca e apreensão, a PF encontrou na casa dele documentos que supostamente demonstram que ele estava convocando os agraciados no programa e exigindo apoio nas urnas.

O caso de Palmeira dos Índios remete para uma discussão das mais relevantes no país: a influência que detém quem domina a máquina pública nas escolhas dos eleitores. Isso engloba uma gama de ações muito diferentes. A começar por algo que não tem nada de errado: o simples fato de ser o governante e receber a anuência do eleitorado para continuar no cargo. Ou então sugerir um nome para substituí-lo, ou para ocupar determinado cargo. Isso pode se dar dentro dos critérios mais republicanos possíveis, de acordo com o que se espera do bom funcionamento de uma democracia: quem é eficiente conquista o poder, para si e para seu grupo político.

No outro extremo, estão atos ilegais, como esse de que Ferro é acusado pela PF, em que uma pessoa ou um grupo político vincula benefícios públicos ou privados em troca de apoio do eleitor. No meio do espectro, estão vários atos, alguns ilegais, outros em que o problema é a fala de moralidade.

Algo que chama a atenção no que ocorreu em Palmeira dos Índios é o fato de que o candidato a vereador é do PSDB, partido de oposição ao governo federal, que por sua vez é o patrocinador do programa Minha Casa Minha Vida. O prefeito James Ribeiro também é do PSDB, assim como o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho. É importante deixar claro que as acusações são contra Ferro, não contra o prefeito nem o governador. Ainda assim, não se pode negar o fato de que são todos do mesmo grupo político. E que, mesmo em caso de uso legal da máquina, há influência. E quanto mais próxima a máquina, maior o peso.

Interessante notar que Ribeiro foi candidato a prefeito de Palmeira dos Índios em 2004, quando o governador era Ronaldo Lessa, então no PSB. Ficou em segundo lugar. Em 2006, quem venceu a eleição para o governo foi Teotônio Vilela. Na eleição municipal de 2008, Ribeiro candidatou-se de novo e desta vez venceu. Hoje, é candidato à reeleição.

Barganha

Esse caso de Palmeira dos Índios confirma o que mostrou reportagem de Gabriel Mascarenhas publicada pelo Correio em 9 de julho. A tendência é o partido que faz o governador conquistar na eleição seguinte um número maior de prefeitos. E, com mais prefeitos, conseguir, no pleito de dois anos depois, crescimento da bancada na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. É claro que é possível trocar um grupo por outro no poder. Mas em geral o caminho normalmente começa pela mudança no governo estadual, com reflexo, dois anos depois, nas prefeituras, e depois de mais dois anos no Legislativo estadual e federal.

Caso essa lógica funcione no próximo pleito, o partido da base que corre maior risco de encolhimento é o PMDB, que perdeu governadores em 2010.

É claro que nada garante que esse padrão irá se repetir. Algo que pode mudá-lo, neste ano ou mais tarde, é o comportamento do eleitor. Ele pode perceber que, politicamente, a barganha de votos não é um bom negócio. Outro item que tem grande peso é o combate eficiente ao crime eleitoral, algo que a PF parece ter feito no caso de Palmeira dos Índios.

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