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Oscar 2012: a Árvore da Vida, com um Brad Pitt em filme mais religioso

Omelete

Experimentar o mundo sempre foi um imperativo aos personagens do cineasta Terrence Malick, e desde seus primeiros filmes, Terra de Ninguém (1973) e Cinzas no Paraíso (1978), só convenções sociais – a propriedade, o casamento, a lei – impedem esse contato. Em A Árvore da Vida (The Tree of Life) o obstáculo é mais agudo: a autoridade do pai.

“Por que ele nos machuca, o nosso pai?”, pergunta o jovem Jack (Hunter McCracken), o mais velho entre três irmãos de uma família texana. Talvez seja o luto pelo familiar perdido, talvez seja o rancor por não ter seguido sua vocação, mas o fato é que a educação intransigente do pai (Brad Pitt) desfalca o primogênito até a vida adulta (quando Jack reaparece interpretado por um Sean Penn alheio aos dias de hoje).

A culpa não é do personagem de Pitt e também não é culpa da rigidez com que se criavam filhos nos anos 1950. Em A Árvore da Vida, o mais religioso dos filmes de Malick, o próprio conceito de paternidade pressupõe o castigo. As referências cristãs sempre estiveram presentes – o casal de Terra de Ninguém vive do fruto como Adão e Eva, e em Cinzas no Paraíso elas incluem até pragas bíblicas – e aqui se espalham de ponta a ponta, na epígrafe, na trilha sonora, na resolução.

Sempre presente na contraluz da hora mágica, a graça divina pontua A Árvore da Vida nos registros grandiosos (difícil achar algo maior que o Big Bang), nos banais (a opressão de um sótão que parece uma capela) e nos fatídicos (o afogamento é uma forma de batismo?). Ironicamente, porém, aqui o contato com o mundo não se traduz em pecado, como nos dois filmes citados (crime de morte em Terra de Ninguém e “incesto” em Cinzas no Paraíso), mas em redenção.

Quando se emancipa do pai, Jack flerta com o “mal” – a vidraça quebrada, a espingarda de chumbo – mas, como é próprio dos contos de formação, tira desses eventos não uma pena, mas uma moral. A câmera do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki mimetiza, com seu constante vaivém, essas forças de atração e repulsa – como o balanço de madeira preso na árvore, que oferece mais perigo e mais recompensa quanto maior for seu arco.

Na Bíblia, a Árvore da Vida é aquela cujo fruto Deus permite que Adão e Eva colham para si, ao contrário da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, ocupada pela serpente e proibida ao primeiro casal. No começo do filme, Terrence Malick faz uma distinção similar – é possível viver o caminho da natureza, mundano, que satisfaz a si mesmo, ou o caminho da graça, absoluta e universal – e diz inicialmente que é preciso escolher um deles. Ao longo de 139 minutos, contudo, A Árvore da Vida nos sugere que esses dois rumos são complementares.

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