Os zumbis da política e o perigo de seu retorno

Ricardo Lima

A política brasileira, por vezes, parece um filme de terror, onde personagens que já deveriam estar fora de cena retornam para reviver seus piores momentos, como na série The Walking Dead. Pessoalmente, jamais pensei ser possível que mortos voltassem com a intenção de devorar os vivos. Essa temática apocalíptica não é nova e permeia o universo cinematográfico há muito tempo. Os zumbis passaram de comedores de cérebros para devoradores vorazes de carne humana. Para além dessa ficção, a metáfora se encaixa bem quando trazida para seara política.

Um exemplo claro disso é uma personagem que já foi prefeito de Maceió. Condenado em 2012 na operação Taturana, ele foi acusado de integrar um esquema de desvio de R$ 302 milhões da Assembleia Legislativa de Alagoas. Além disso, o ex-prefeito se envolveu em outro escândalo, conhecido como a Máfia do Lixo, um esquema de lavagem de dinheiro por meio de contratos ilegais de empresas de limpeza pública e que graças a um desembargador do TJ, que generosamente liberou sua candidatura, volta agora para assombrar a sociedade maceioense.

Esse retorno não é apenas um insulto à população de Maceió, mas à própria noção de justiça. O fato de figuras condenadas por crimes de improbidade, que prejudicaram diretamente a sociedade e ainda conseguem espaço para concorrer a cargos eletivos, revela algo mais profundo: um sistema que permite, ou até incentiva, a amnésia coletiva. Ele e outros políticos representantes de uma direita corrupta, como são especialistas em explorar a falta de memória da população e a desilusão com a política, utilizam esses momentos para se reapresentarem como algo novo sem de fato o serem.

A tática é sempre a mesma: discursos populistas, promessas simples e a tentativa de apagar um passado de corrupção. Mas o problema não está apenas nas figuras que tentam voltar ao cenário político. A sociedade, que deveria ser a guardiã da memória e da ética, acaba sendo vítima da própria falta de envolvimento e desinformação. Se não mantivermos viva a lembrança dos crimes e erros do passado, abrimos as portas para que esses “zumbis” da política voltem a nos assombrar.

O retorno desse ex-prefeito, por mais absurdo que pareça, é sintomático de um problema maior: o esvaziamento da política. O cidadão comum, cansado de tantos escândalos, muitas vezes deixa de acreditar que a sua participação no processo eleitoral pode fazer diferença. E é justamente nesse vácuo de esperança que esses políticos renascem, como previsões de um cenário apocalíptico.

A metáfora do zumbi, que na ficção representa a ameaça constante e a destruição, é perfeitamente aplicável aqui. Quando figuras condenadas ou envolvidas em escândalos de corrupção retornam, elas não estão apenas buscando mais poder, mas vêm para devorar as possibilidades de renovação, de mudança, de progresso.

Por isso, a vigilância precisa ser constante. Não basta votar; é preciso lembrar, acompanhar, cobrar e rejeitar esses retornos oportunistas. A memória política não pode ser curta, e o eleitor não pode ser ingênuo. A cada ciclo eleitoral, temos a oportunidade de enterrar definitivamente essas figuras nefastas, ou, do contrário, deixaremos que voltem a governar e consumir o que resta da nossa dignidade como cidadãos.

A candidatura desse ex-prefeito deve servir de alerta para Maceió e para o Brasil: é preciso impedir que os zumbis da política voltem a caminhar entre nós, devorando o futuro de uma sociedade que precisa, urgentemente, de renovação. Se não fizermos isso, acabaremos presos em um ciclo interminável de corrupção.

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