Os consumidores do futuro

Samyra Crespo- Correio Braziliense

Proteger as crianças da publicidade excessiva, não incentivar o consumismo, estimular a imaginação e a criatividade delas, promover o contato com a natureza e com os livros. Seguramente, é um caminho promissor se desejarmos adultos responsáveis, mais sensíveis e solidários, e sobretudo mais motivados a agirem como agentes transformadores da realidade.

É muito comum quando falamos em meio ambiente e sustentabilidade, indagarmos sobre que planeta e qualidade de vida estamos legando às gerações futuras, mas nos esquecemos de perguntar que crianças estamos legando ao planeta. Em outubro, o Ministério do Meio Ambiente lançou a campanha Crianças e consumo, com ações que ocorrerão até o fim do ano, em parceria com o Instituto Alana, organização não governamental de defesa da infância livre de consumismo.

Em 15 de outubro, comemorou-se o Dia do Consumo Consciente. A data foi instituída pelo Consumers International e adotada pelo Ministério do Meio Ambiente desde 2009 para conscientizar a população sobre os problemas socioambientais que os padrões atuais de produção e consumo estão causando. As montanhas de lixo que se acumulam nos lixões e aterros sanitários são apenas um sintoma de algo mais grave, a doença urbana do consumo concentrado e exacerbado de embalagens e o do descarte inadequado.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, e o Plano Nacional dela derivado são regidos pelo princípio do compartilhamento. Não basta o governo fazer sua parte, nem mesmo as empresas — que deverão se responsabilizar pelo destino final das embalagens que produzem ou distribuem, se os consumidores não mudarem hábitos de consumo e de descarte.

Para dar exemplo, o MMA assinou um acordo com a Associação Brasileira de Embalagens para que os invólucros de todos os produtos passem a informar como deve ser feito o descarte após o uso (no pós-consumo). As adequações serão feitas em mil produtos por ano, até que todas as embalagens tragam essa informação em 2014.

Mas não basta descartar adequadamente, é necessário reduzir o volume de embalagens. É notório e sabido que não existem nas cidades, sobretudo as maiores, terrenos disponíveis para a construção de aterros sanitários. Nenhum bairro quer a proximidade com lixões ou seus sucedâneos.

Cada vez mais as pessoas compreendem que a luta pelo meio ambiente não é uma batalha para salvar o planeta, mas sim para preservar a nós mesmos e o mundo em que vivemos. Segundo a pesquisa “O que o brasileiro pensa do meio ambiente do consumo sustentável”, realizada este ano pelo Ministério do Meio Ambiente, às vésperas da Rio+20, 65% da população consideram que cuidar do meio ambiente tem a ver com a nossa sobrevivência.

Quase tudo que nós adultos buscamos fazer, como reduzir o desmatamento da Amazônia para garantir o equilíbrio climático no planeta, reduzir o consumo de sacolas plásticas para diminuir a geração de resíduos e evitar enchentes, separar o lixo para reciclagem, preservar a biodiversidade, gerar energia de fontes renováveis — todas essas ações têm nossos filhos como motivação. Afeto e responsabilidade se misturam na visão que cada geração tem de melhorar o mundo.

Cabe aos pais, professores e cuidadores das creches mediar essa relação da criança com o consumo: por que substituir a banana ou a maçã na merenda do filho por um produto industrializado? Quais as desvantagens nutricionais envolvidas? O crescimento da classe C tem levado a população a oferecer às crianças mais salgadinhos, biscoitos e refrigerantes sem fazer a conta desse custo lá na frente.

Mudar a cabeça de adultos de gerações distintas é trabalho difícil. Muitos cresceram acreditando na abundância da natureza, outros na importância de sobrepujá-la, e a grande maioria sequer relaciona seu consumo com qualquer impacto ambiental. São os jovens e as crianças que melhor assimilam a mensagem de defesa do meio ambiente e de mudança dos padrões de vida e consumo. É importante fortalecer esse aprendizado, estimulando cada vez mais o pensamento crítico nas crianças, vinculando sua ideia de qualidade de vida com o meio ambiente.

Usufruir sustentavelmente dos recursos ambientais, consumir sem consumismo, compreender que é mais importante ser do que ter, respeitar o próximo e cuidar do que é de todos — esses são valores essenciais para um cidadão brasileiro contemporâneo.

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