Jair Bolsonaro não é apenas um presidente de reações destrambelhadas. Ele faz esforços para manter suas redes sociais em constante atividade, espalhando teorias da conspiração e buscando encurralar seus inimigos, além de mostrar que tem a palavra final com as forças armadas e a polícia federal.
Na live da última quinta-feira ao revelar, de novo, sua inépcia na gestão da pandemia, Bolsonaro mandou recado ao senador Renan Calheiros (MDB) e ao governador Renan Filho (MDB). Agora quer acusar o governador de roubar dinheiro federal e faz ameaças com intimidação autoritária.
Ora, se Jair Bolsonaro tem provas contra o governador e seu pai, por que não as apresenta? Seria uma forma de desmoralizar os dois; mostrar, afinal, que Renan Calheiros não tem credibilidade para ser relator da CPI da Covid.
A resposta é que o presidente não tem estas provas. E pouco se importa com o auto-descrédito, desde que a paranoia continue a todo vapor nas redes.
Não importa se é verdade ou mentira ou como as instituições reagirão. Mas, sim, causar o embaraço pela atitude irresponsável, mas eficiente, aos ventríloquos da seita presidencial.
E não são poucos. As pesquisas mostram que 10% a 15% dos entrevistados acreditam em tudo o que Jair Bolsonaro diz. A aposta na lacração não é ao acaso. Ela tem intencionalidades.
O ataque aos Renans é desespero, revela mais fraqueza que força, mas atrair as atenções dos “patriotas” faz parte do show bolsonarista. E se isso é absurdo, basta ver o método Donald Trump.
O protótipo brasileiro precisa exibir seu poder de imaginação, dizer que o mito é ungido pelos céus, que sai às ruas de “corpo fechado” enfrentando um vírus, sabotando medidas sanitárias porque quer salvar-nos do mal chinês, da dominação comunista no meio de uma tragédia nacional, entre risadas e lágrimas.
Nada fica sem resposta nas redes de Bolsonaro. E se não houver respostas, se inventam. Governadores e prefeitos são todos ladrões, é o que o imaginário social brasileiro repete há tempos. Para quê provas quando um presidente, pressionado, alimenta sua matilha com a indignação?
Com pouco pão, um povo também se controla com o circo.
