Enaldo Júnior: Ode à barbárie caeté‏

 José Enaldo da Silva Júnior- É advogado- Especial para o Repórter Alagoas

A tensão viva em Alagoas nos últimos dois anos é análoga a uma tela que se põe a separar as pessoas. Em tempos como este – de guerra – não há olhos distraídos. Cada rosto e olhar significam algo a ser decifrado.

O medo nas ruas insufla as barrigas paupérrimas como um almoço indigesto – ou uma noitada com péssima bebida – aos poderosos de Alagoas. Ao passo que o medo – o nosso medo – não explode nos outdoors nem em manchetes de jornal. Não vivemos decerto uma invasão por terra ou temos nossos céus tomados por aviões; mas a nossa guerra sente-se por dentro.

E, ante a nossa fobia e relativo ao nosso medo, os principais responsáveis pela nossa segurança insistem em escondê-lo, dissuadi-lo. Tentam justificar o injustificável com a pecha de “alarme exagerado” ou superestimativa de “maus alagoanos”.

Idiossincrasia ou não, a verdade é que o discurso oficial – cuja bandeira o Governo tucano busca a todo custo solidificar – nos chega das formas mais disparatadas.

Dizem que a “guerra” é entre bandos que se matam em busca do crack (ou em função deste). Entretanto, ninguém sabe ao certo onde “eles” terminam ou começam.

A realidade é a de que as bases comunitárias, o videomonitoramento, as viaturas policiais e o espalhafatoso helicóptero que sobrevoa a cidade a todo momento não tranquiliza os alagoanos.

Ao contrário: eles subtraem espaços e não transmitem a mínima segurança. Apenas circunscrevem e tornam o espaço mortal da luta ainda mais sufocante.

É inegável a falência do aparato policial como um todo no Estado. Em apenas uma semana experimenta-se assaltos sendo praticados às portas da maior delegacia da capital e assassinatos praticados defronte a um dos maiores quartéis de polícia.

E a resposta estatal ante a tal barbárie caeté traduz-se na “comemoração” grotesca e fora de esquadro entre o governador do Estado – Teotonio Vilela Filho – e seu secretário de Defesa Social – Dário César – satisfeitos e vibrantes ante às mais de 30 pessoas que sucumbiram ante a violência extremada de um período momesco – 20 destas apenas no intervalo de 72 horas – em análise comparativa estatística com o mesmo período ao ano anterior.

Vale lembrar que a todo o estado de São Paulo, no mesmo período, apresentou dados estatísticos resultantes da violência consoantes em 27 homicídios – e com uma população na capital superior a de Maceió em mais de 12 milhões de habitantes – e tal resultado não fora motivo de alegria, e sim de consternação.

A morte de um alagoano, qualquer que fosse, não nos parece servir como motivação para se comemorar, ou salvo melhor juízo, satisfazer-se. É uma espécie de “humor fúnebre” que o bom alagoano deveria dispensar. Uma piada de mau gosto, um desrespeito com as famílias enlutadas.

E ao alagoano – seja ele bom ou mal – resta a sensação de se estar cada dia mais encurralado.

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