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O trabalho do psicólogo em Alagoas: retratos das (im)possibilidades políticas

Alagoas é um Estado pequeno mas que, dentro de seu território, carrega antigas contradições, histórias de lutas e conquistas. É um acervo de histórias que infelizmente não costumam ser contadas, sendo facilmente apagadas as lembranças e o caminho que constituiu a sociedade alagoana atual e que se mostra bastante problemática.

A história da Psicologia em Alagoas não é vista nos cursos de graduação, assim como a história da Psicologia no Brasil aparece com extrema rapidez e, na maioria das vezes, de maneira insuficientemente pormenorizada para entendermos as características históricas e as nuances dos jogos de poder que caracterizaram a Ciência Psicológica que aqui se desenvolveu.

A pesquisa documental sobre a história da Psicologia em Alagoas conta com uma enorme dificuldade, já que não é encontrado nenhum trabalho científico que reunissem os marcos legais, instituições e pessoas que tiveram suas histórias ligadas a esta construção. Logo, os percursos históricos da Psicologia em Alagoas são difíceis de encontrar.

Estes marcos históricos são de extrema importância para a discussão de uma Psicologia regional, local, que é necessária à adequação, desenvolvimento de práticas e o direcionamento de pesquisas. Pesquisar sobre a profissão do psicólogo no Brasil é uma atividade bastante complexa pois é importante compreender os interesses e as expressões ideológicas e políticas, nem sempre explícitas, dos autores e pesquisadores que se debruçaram sobre o tema ao longo do tempo.

Isto é, parece uma direção típica dos autores entender que a Psicologia é uma profissão plural e de identidade polimorfa. Mas o que dizer de pequenas regiões e Estados como Alagoas que carregam contextos tão adversos que, por vezes, os psicólogos precisam enfrentar em suas localidades e regiões não-urbanas e centrais, mas em áreas rurais e semirrurais? Não me parece coerente afirmar esta tendência “polimorfa” em Alagoas, por exemplo. Que polimorfia é possível neste contexto de dinâmica econômica entravada e uma cultura de arcaísmos e exclusões?

É muito plausível que autores das regiões Sudeste e Sul, que configuram regiões que concentram a maior parte dos psicólogos no Brasil além de boa parte da riqueza do país (ver Malvezzi et al, 2010), pensem em polimorfia e pluralidade da profissão do psicólogo. Esta dinâmica aparece para eles como a realidade irredutível do Brasil, em ritmo de desenvolvimento, modernização das relações de trabalho e dos meios de produção.

Ora, esta não é a tendência do Brasil de maneira igualitária e não configura a realidade Alagoana e de muitos Estados do Nordeste. Considerar estas as diferenças regionais, a própria divisão regional do trabalho no Brasil é de interesse dos psicólogos a partir do momento que entendemos que estas condições sócio-históricas condicionam nossas atuações profissionais e o desenvolvimento da própria Psicologia enquanto ciência.

As condições e postos de trabalho dos psicólogos em Alagoas de longe conseguem ser dinâmicas a partir do momento que não está claro para a maioria da população as atribuições e possibilidades de trabalho deste profissional e sua atuação estar contida em pequenas parcelas da população mais rica e urbana, apesar de uma maioria de pequenos municípios semirrurais e povoados.

Psicologia nas escolas? Apenas nas escolas da burguesia ou de uma parcela muito pequena da classe média que dispõe, a partir do serviço público, seu ganha pão e estabilidade.

A Psicologia do Organizacional e do Trabalho (POT) em Alagoas está ligada também, a empresas públicas ou a pequenos nichos de empresas privadas que querem manter sua aparência moderna, numa tentativa, extremamente problemática de transformar trabalhador em colaborador. A lógica privada em Alagoas não contempla atuações alternativas e emergentes da Psicologia, mas, sobretudo, a seleção de pessoal e o trabalho através de manejos tradicionais do conhecimento psicológico.

Se por polimorfia e pluralidade os autores configuram as possibilidades ampliadas de atuação do psicólogo de acordo com o arcabouço da ciência psicológica, sim, somos plurais. Mas quando se trata da realidade concreta de regiões como o Nordeste e Estados como Alagoas, não me parece claro.

Apesar da diversidade que configura o conhecimento psicológico e dos vários campos de trabalho e subáreas que poderíamos assumir o posto, em Alagoas, entretanto, isso não parece florescer. Permanece a Psicologia Clínica, a Hospitalar/Saúde e Escolar, esta última crescendo muito timidamente.

É estranho para mim dizer que as pessoas de Alagoas não conhecem a política, ou que simplesmente são arrebanhadas por famílias que historicamente detém em suas mãos, o poder. As pessoas sabem o que devem fazer e o que não devem fazer para garantir seus empregos, suas condições de vida ou até se proteger e viver em paz.

Não é estranho pois está no modus operandi desta terra uma estranha normalidade e marasmo político que aparece como submissão. E com isso não estou negando a violência, através dos aparelhos do Estado para manter a ordem. Falo, sobretudo, da forma de barganha que as pessoas aprenderam a fazer. Faz parte da atividade humana em Alagoas a negociação com os donatários das terras e das funções públicas.

Expus todas estas questões para contextualizar, mesmo que rudemente, a realidade concreta do psicólogo alagoano. E a partir daí, sondar os aspectos relacionados ao mercado de trabalho. Para isso contei com a ajuda oportuna de dois psicólogos que atuam em diferentes interiores e regiões de Alagoas.

Ambos os psicólogos entrevistados utilizarão um nome fictício pois, dadas as condições político-culturais dos locais em que atuam, podem estar sujeitos a retaliações e perseguição política. Sublinho esta informação para que o leitor entenda a tensão política que é viver em Alagoas e a estrutura opressora que todo e qualquer trabalhador está exposto neste território.

Um dos entrevistados atua na cidade de Porto Calvo, no litoral Norte de Alagoas. O outro, em Murici, Zona da Mata alagoana. Identificarei o primeiro como Maria e o segundo como Roberto. Algumas perguntas respondidas terão um comentário meu. Segue a entrevista:

Como você avalia o mercado de trabalho na sua cidade? Que subárea da Psicologia se sobressai?

Maria: Atualmente, a subárea que se sobressai aqui no interior é Psicologia Hospitalar. Com a construção do Hospital Regional do Norte a Psicologia Hospitalar ganhou espaço na cidade.

Roberto: Pouco procurado e explorado, tanto pelos profissionais que se formam quanto das autoridades que deveriam demonstrar maior interesse na profissão. Infelizmente acaba virando um ciclo: como há pouca valorização aos profissionais pela população, no sentido de não conhecer o nosso fazer e das instituições (CAPS, Escola, hospitais locais), os profissionais que se formam acabam buscando oportunidades em outros lugares que exista uma maior demanda por nossos serviços. Na grande maioria das vezes é a capital (Maceió).

Sendo assim, é uma área que encontra grandes dificuldades no interior para levar seus serviços à população. No entanto, a área da Psicologia que acaba ganhando mais visibilidade é a hospitalar com atuação específica no CAPS. Que por esse motivo, acaba ganhando uma conotação pejorativa no sentido de: “Psicologia é para doido”, mas aqui é um tema para uma outra discussão.

Após a pandemia, está havendo uma procura pela Psicologia Clínica, pois percebo que este momento foi um grande gatilho que descompensou a sanidade mental de muitos. Basta agora os profissionais saberem aproveitar o momento para expandir seus fazeres e demonstrar que não é somente na pandemia ou em momentos de grandes crises que a psicologia deve ser procurada.

Comentário: Podemos identificar com muita propriedade, nas duas respostas, a função importante da Psicologia nas políticas públicas e na construção de práticas que se relacionam com a urgência da expansão dos serviços prestados a sociedade. Isto abre margens para questionamentos importantes: como os psicólogos podem propor políticas públicas que tenham abrangência nas diversas subáreas da Psicologia e como os serviços de Psicologia podem ser ressignificados na população a partir de atuações alternativas, contra hegemônicas e críticas?

O interesse no trabalho do psicólogo precisa ser colocado em pauta em pesquisas, sejam em pós-graduações ou trabalhos de iniciação científica. Não podemos perder de vista que toda e qualquer atividade desenvolvida por qualquer profissional partem de realidades concretas, com suas contradições e movimentos próprios. Se não temos um Sindicato atuante e Conselho Regional que procure buscar dados para embasar a compreensão do que é a profissão em Alagoas, as respostas precisam ser respondidas de outro modo. Afinal de contas, quem são os psicólogos de Alagoas? Qual seu perfil sociodemográfico? Onde atuam? Qual a seu nível de qualificação? Conseguem viver da Psicologia ou completam em outros empregos? Estas e muitas outras perguntas precisam ganhar espaço nas discussões acadêmicas e na formação dos psicólogos. Psicólogo também tem contexto.

Você avalia que os serviços de Psicologia (público e privado), em sua cidade, conseguem cobrir as necessidades da população?

Maria: Sim, aqui na cidade dispõe algumas clínicas particulares e também é ofertado serviço de psicologia através do SUS.

Roberto: Na área de Psicologia da Saúde, sim. Pois percebo um trabalho muito forte por parte destes profissionais para lidar com toda a demanda da cidade e, naquilo que está ao alcance deles, tem conseguido sanar boa parte das necessidades, como no CAPS, CRAS e CREAS.

No entanto, nas outras áreas não. A Psicologia Clínica está engatinhando aqui no meu município, que é Murici. Apesar dessa área estar somente no setor privado há uma movimentação maior na clínica, se considerar os últimos 5 anos, por exemplo, quando nem se quer havia uma clínica especializada somente para atendimentos em Psicologia.

Psicologia escolar e organizacional, é praticamente inexistente.

Comentário: Cabe ressaltar aqui a importância da implementação da Lei nº 13.935 que dispõe dos serviços de Psicologia e Serviço Social nas escolas de educação básica. Com esta lei sendo implementada sem dúvidas haveria um impacto que poderia acarretar em maior absorção dos psicólogos no mercado de trabalho, mesmo em cidades pequenas como Porto Calvo e Murici. Outra questão importante: apesar de existirem clínicas particulares e serviços do Psicologia através do SUS não temos dados para compreender esta atuação e a quem este serviço atende. Interiores de Alagoas também sofrem com os índices baixos de desenvolvimento humano, associado a uma economia pouco dinâmica e, muitas vezes, focada no trabalho informal e precário dificultando o acesso aos serviços e o investimento em atendimentos clínicos privados, por exemplo.

Você analisa que o trabalho do psicólogo no interior do estado de Alagoas possui especificidades e demandas diferentes dos psicólogos da capital Maceió?

Maria: Sim, pois o contexto ao qual estão inseridos são totalmente diferentes. É comum no interior as pessoas abandonarem os estudos precocemente isso acaba dificultando alguns entendimentos por parte do paciente, então é necessário que o psicólogo utilize uma intervenção e linguagem acessível para que o paciente consiga aderir ao tratamento.

Roberto: Com certeza. O psicólogo da capital só precisa se preocupar em exercer a sua profissão, enquanto que o do interior, além disso, precisa muitas vezes fazer um trabalho educacional para conseguir ser visto, respeitado e valorizado. No interior lidamos diariamente com estigmas da profissão, como o ditado já citado: “psicologia é para doido”; existem outros como: “quem vai para psicólogo é doente mental”, “psicólogo só conversa, não faz nada”, entre outros. Não que na capital não exista esses “dizeres”, mas no interior é bem mais forte.

Comentário: Aqui estão umas das grandes questões que uma formação voltada para a cidade gera nos psicólogos que querem atuar em suas regiões de origem ou se deslocar da capital para o interior. O estilo de vida, as formas de trabalho das pessoas são diferentes. Não que as possibilidades de trabalho do psicólogo estejam ligadas apenas ao contexto da cidade, muito pelo contrário. É comum a existência de cooperativas e associações de pequenos agricultores ou pescadores, caberia à Psicologia desenvolver suas práticas nestes contextos? Cabe ao Psicólogo um trabalho com Psicologia Comunitária em comunidades rurais e povoados? Caberia se nosso trabalho chegasse até essas pessoas, se nossas pesquisas compreendessem suas especificidades e se houvesse disponibilidade política para estas práticas. Outras questões subjacentes emergem neste contexto: o acesso a educação da população, o acesso a tecnologias, saberes e conhecimentos que são divididos de forma desigual pelo território brasileiro e, em consequência, pelo território alagoano. Sabemos que existe uma Psicologia do Desenvolvimento, mas será que podemos pensar numa Psicologia para o Desenvolvimento? Isto é, para a promoção humana, o desenvolvimento das potencialidades que se constroem na atividade? Há trabalho a ser feito!

Você acredita que a graduação em Psicologia abrange as necessidades das populações interioranas?

Maria: Não, durante a graduação eu tive algumas matérias teóricas que explanaram sobre essa demanda, porém, não tive intervenção na prática que é onde podemos ver de fato as necessidades da população interiorana. Hoje na minha prática profissional eu consigo ver essa falta de não ter tido projetos voltados a essa população. Então, cabe a nós profissionais da Psicologia mudar essa realidade para que essas pessoas possam ser assistidas da melhor forma possível.

Roberto: Muito pouco, pois o público alvo que é utilizado até para nossos estudos, é a população da capital. Mas percebo isso como uma prática ideológica das próprias instituições e, sem querer entrar no mérito das universidades, a UFAL consegue abarcar esse público do interior e, consequentemente, norteando melhor seus profissionais.

Comentário: É muito importante tocar nesta questão em específico pois é prudente considerar, a partir de uma Psicologia de Alagoas, as diferentes populações que aqui existem, com diferentes modos de sobreviver e atividades econômicas diversas. Há municípios bastante pequenos em número de habitantes e com situações ainda mais difíceis no que diz respeito a economia, ao acesso a serviços básicos de saúde, etc. É problemático pensar em Alagoas como um local uniforme, com histórias sociais igualitárias e pouco dinâmicas. Como é possível abranger estas diferenças entre as pessoas e regiões? Isto inevitavelmente nos direciona a questões metodológicas da Psicologia e os alicerces ideológicos da produção da Ciência Psicológica no Estado. Como ciência da cidade, a Psicologia se desenvolve com o horizonte voltado aos serviços privados ao individual. Sobretudo em países periféricos e subdesenvolvidos esta lógica não dá conta das especificidades e carências sociais destes territórios. O poder, em Alagoas, se constrói a base da posse da terra, do prestígio social e da maquinaria pública. O que aparece como padecimento sem fim nestas terras que insiste num arcaísmo institucional e social tem uma razão de ser: superexploração do trabalho e acumulação de capital. Como a Psicologia pode entender estas nuances e atuar é o desafio histórico que enfrentaremos pela frente.

Como você analisa a influência da política local no mercado de trabalho da sua cidade?

Maria: A política influencia totalmente. O que acontece muito nos interiores é o apadrinhamento político, onde o profissional tem mais facilidade de conseguir emprego através da influência de um vereador ou prefeito.

Roberto: Nesta questão gostaria de abrir um parêntese para falar de um fato particular meu, enquanto ainda era estudante de Psicologia.

Numa época de eleição, uma candidata à vereadora veio a minha procura para conversar sobre as minhas pretensões profissionais (sim, ela queria comprar meu voto), me oferecendo um estágio remunerado caso ela vencesse às eleições.

Durante a conversa descobri que era formada em administração e em algum momento do diálogo ela afirmou: “vocês psicólogos estão querendo roubar nosso cargo na área de RH com esses testezinhos, lugar de psicólogo é na clínica”.

Respeitei sua ignorância por não saber as várias áreas de atuações que a psicologia pode abarcar e, além de não votar nesta candidata (óbvio), concluí que os profissionais da Psicologia estão se posicionando muito pouco politicamente.

Um dos motivos dessa candidata não saber sobre nosso fazer, é justamente dessa falta de posicionamento. Quantos outros, não somente políticos, mas de outras classes, não compartilham desse mesmo pensamento?

Então, especificamente no meu município, poderíamos ter uma influência política positiva caso houvesse um maior posicionamento político por parte dos psicólogos.

Comentário: Aqui é importante notar que não se trata de dificuldade de posicionamento político do psicólogo. Por mais que seja difícil de lidar, os psicólogos se posicionam politicamente o tempo inteiro. O que temos que perceber é que talvez seus posicionamentos não reflitam uma conscientização das relações sociais e de produção da vida, ou seja, seu posicionamento não promove práxis transformadora, não se propõe a emancipar o ser humano. E é aqui que se fundamenta suas dificuldades históricas.

A prática de apadrinhamento político, compra de voto, voto de cabresto e coronelismo não é novidade no território nordestino. Um ponto importante para se colocar em pauta é o nível de dependência que o psicólogo alagoano carrega em suas costas. Dependência política que para existir. O problema é tão profundo que obscurece a vista até dos mais atentos: não basta ser empreendedor em Alagoas para manter estabilidade econômica e uma vida razoável, é preciso ceder ao poder.

No entanto, os caminhos podem ser abertos junto com os movimentos da história. Se as faculdades de Psicologia de Alagoas não conseguem dar conta destas nuances, certamente já escolheram uma posição, um horizonte muito particular de cunho político e cultural. Permanência e crítica é a composição dialética que erguerá outros caminhos. A solidão do psicólogo em Alagoas é o que comporá os coletivos que lutam. O psicólogo e seus testes não tomarão para si o RH, mas estes mesmos testes são, e talvez continuarão sendo, os únicos trunfos a seu favor.

As pequenas cidades de Alagoas tendem a ter uma forte ligação com atividades econômicas ligadas ao contexto rural. Sendo assim, existe uma parte considerável da população vivendo no campo. Em sua cidade, como você analisa a cobertura dos serviços de Psicologia?

Maria: Em minha cidade, os serviços em psicologia conseguem chegar a essa população do contexto rural. Os agentes de saúde fazem as visitas domiciliares e leva as demandas para o profissional de psicologia. Dependendo da situação, o psicólogo vai até o domicílio para fazer o atendimento, ou a secretaria de saúde disponibiliza um carro para levar o paciente a unidade de saúde.

Roberto: Especificamente para esse público, que eu tenha conhecimento, não há uma devida cobertura. E quanto há, é num processo de atenção secundária, quando já existe uma patologia.

A pandemia do novo coronavírus trouxe mudanças no mercado de trabalho do psicólogo. Para alguns, a busca de serviços psicológicos se intensificou, para outros, no entanto, a crise econômica interferiu na capacidade das pessoas buscarem atendimento, mesmo de forma online. Como você avalia o mercado de trabalho para o psicólogo levando em consideração este contexto de crise sanitária?

Maria: Eu acredito que devido a pandemia do novo coronavírus a psicologia ganhou mais visibilidade, com isso, ganhou mais espaço no mercado de trabalho. Devido a esse novo cenário alguns profissionais disponibilizaram seus atendimentos com valor social, o que facilitou para as pessoas que não tem condições de pagar pelo valor padrão. Com as limitações dos atendimentos presenciais algumas pessoas acabam não conseguindo fazer uso dos atendimentos online por não dispor de conexão de internet, esse é um dos problemas causados pela desigualdade social.

Roberto: Para a psicologia, de forma geral, foi positiva. Pois demonstrou a nossa importância para a sociedade. O período de isolamento social acarretou em um desequilíbrio emocional muito grande, onde foi importante o auxílio da psicologia para um melhor manejo destas condições.

A psicologia também precisou se reinventar, apesar dos atendimentos online já serem uma realidade mesmo antes da pandemia, muitos profissionais resistiam a essa modalidade de prestação de serviços, forçando-os a saírem de uma zona, até então, de conforto.

Posso estar errado, mas não percebi uma queda na procura dos serviços psicológicos, pelo menos na clínica, por conta da crise provocada. Isto por que as pessoas com um menor poder aquisitivo, infelizmente já não procuravam a clínica por falta de condições. Mas isto é só as primeiras impressões, até porque o impacto da crise ainda está se desenrolando e futuramente possa ter dados mais concretos.

Comentário: Estou aprendendo, finalmente, que para estudar a Psicologia e o psicólogo de Alagoas não há como deixar de considerar as imensas desigualdades que existem neste território. É partir deste conglomerado de situações difíceis que vão emergir as categorias e conceitos que possibilitem ir além da “não-história” que nos é imposta e dos sujeitos “não-psicológicos” tentam nos fazer engolir. A Psicologia tecnicista e idealista das faculdades alagoanas não permitem o reconhecimento da materialidade histórica que constitui a alagoanidade real, aquela se forma nas pequenas insurgências do cotidiano, aquela que o futuro haverá de trazer um horizonte longe do latifundiário e do aristocrata e mais próxima do popular e do trabalhador.

 

Saiba mais:

BASTOS, A. V. B. et al. Uma categoria profissional em expansão: quantos somos e onde estamos?. In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. O trabalho do psicólogo no Brasil. São Paulo: Artmed, 2010.

MALVEZZI, S. et al. Inserção no mercado de trabalho: os psicólogos recém formados.  In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. O trabalho do psicólogo no Brasil. São Paulo: Artmed, 2010.

GONDIM, S. M. G et al. A identidade do psicólogo brasileiro. In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. O trabalho do psicólogo no Brasil. São Paulo: Artmed, 2010.

 

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