O tamanho de Nunes Lima, em um envelope amarelo

Chargista morreu ontem, aos 80 anos; mas, seus causos e desenhos falam quem foi este homem

Odilon Rios
Do Repórter Alagoas

Uma boa lembrança do chargista Nunes Lima- que morreu ontem aos 80 anos- será a costumeira viagem de ônibus às quartas-feiras, ao Farol.

Nunes trabalhou na Gazeta de Alagoas, mas seus causos eram contados no jornal semanário Extra.

Os causos eram retalhos vistos por Nunes da realidade. Não se sabia de seus homens ou mulheres até que ponto eles existiam na realidade ou estavam na fantasia daquele homem baixo, calça comprida social bem passada, a camisa impecável e os cabelos brancos levemente penteados.

Tudo simples, como Nunes sempre será.

Mas, os personagens estavam lá escritos, na folha de papel da máquina de escrever, estiloso, fartamente corrigido de caneta, e entregue em um envelope amarelo a jornalista Cláudia Walkíria, às quartas-feiras, à tarde, na redação.

Com o envelope estava algum de seus desenhos, em papel recortado, como se a tecnologia do escaner ou a era digital jamais tivessem chegado a redação.

No caminho a redação, cumpria um roteiro obsequioso: saltava, do ônibus, no ponto do Quartel, atravessava a avenida Fernandes Lima. Algumas vezes eu o acompanhava- descia do mesmo ônibus.

Nunes falava pouco.

– Grande Nunes, como vai?

– Grande nada, sou pequeno.

Apontava para a nossa diferença de altura. Uma risada leve, os carros passavam já do outro lado do canteiro, seguíamos ao casarão onde funcionava a redação do Extra.

O homem dos causos passava anônimo entre tantos. Ali era o menor mesmo.

Porque o seu tamanho estava naquele envelope amarelo.

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