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O que aprender com a onda de xenofobia global?

Para início de diálogo é importante frisar que não acreditamos no enrijecimento relacional com o estrangeiro como estratégia de mudança comportamental, frente ao movimento de perseguição que estamos assistindo em diversas partes do globo, principalmente nos países que agora protagonizam esta ação como pauta política partidária.

Contudo, a cena repetida em fases distintas da história, deve servir para nos ensinar um pouco mais sobre a trajetória do poder e da supremacia econômica no mundo.

Desde o nosso próprio rincão brasileiro, apesar de tudo o que descompensa em desigualdades, o chão pátrio amado, às formas como as américas foram estratificadas pelos países que tomaram a dianteira econômica, e aqueles que investiram no colonialismo como solução para os seus problemas, é preciso aprender a ler a história das intencionalidades do poder.

Seguir existindo socialmente como se a sociedade não existisse, é se atirar em uma bifurcação e aguardar os resultados. Assim existem os que não fazem nenhum tipo razoável de leitura socioeconômica. Partindo desse pressuposto, compreender movimentos migratórios e persecutórios a migrantes é acompanhar as intenções do mundo sobre histórias e corpos, que são memórias, identidades e tração de força para alimentar a máquina capitalista.

O presidente dos EUA listou a perseguição aos estrangeiros como pauta do seu mandato, foi eleito, e priorizou cumprir o que prometeu, desrespeitando histórias de famílias inteiras, investimentos em estudo e os direitos básicos dos cidadãos não-americanos que resolveram se adaptar ao modo de vida daquele território sempre hostil ao estrangeiro caracterizado como latino, entre outros.

As notícias sobre brasileiros perseguidos nos EUA preenchem qualquer página de horror para quem tem senso humanitário e societário, baseado em direitos. Mas a naturalização do horror acontece também pela banalização noticialesca, levando a sociedade a costumar com a truculência em doses diárias de mera informação.

Espanhóis passaram a expulsar turistas com hostilidade, acusando-os de encarecimento da vida real, e, ao mesmo tempo, desconsiderando mercado e políticas econômicas globais, no afã de conferir poder e controle a políticos designados “conservadores”, ou seja, aptos a agredirem o diferente, o estranho, colocado na condição de invasor.

E Portugal faz ecoar a deportação de milhares de brasileiros, uma política anunciada na esfera da conservação, para sanear a economia e a mentalidade xenofóbica respirar em paz.

Por que brasileiros migram de maneira tão massiva? Por que se expõem a tratamentos diferenciados quando poderiam estar lutando pela vida no próprio país? Não existem resposta simplória para isso, mas não precisamos se expert em política ou antropologia para imaginar que todo povo precisa de oportunidades existenciais para fincar morada em algum lugar.

O que tira essa chance de vida do povo brasileiro? A mesma energia que a retira de qualquer outro lugar do mundo, quando os sistemas se contorcem pelo poder, sempre pautada pelo controle da economia. Embora se revista e enfeite de jargões culturais e falácias, na base de todo preconceito e discriminação xenofóbica está o interesse em alguma forma de supremacia.

O Brasil segue descendo a ladeira como “uma pátria-mãe distraída” ou nós brasileiros ainda não tivemos interesse suficiente em compreender o alcance da política, deixando para os “ricos e milionários” que não se importam com a sociedade em forma de gente, determinarem nossos destinos?

Solidariedade aos brasileiros perseguidos pela xenofobia exposta como marca desse momento histórico se iguala ao sentimento de pesar pelos brasileiros indiferentes aos processos políticos que se deixam manobrar pelos interesses anti-democráticos que somente fortalecem os opressores pátrios, pois que estes ocupam lugar especial na base das desigualdades que servem de expulsão a quem busca oportunidade.

Nossa luta pelo Brasil deve ter início quando nascemos nele, para que não falte chão aos nossos descendentes, os que aqui estão e aqueles que ainda virão.

Ter uma pátria é o que resta aos expulsos de territórios alheios e hostis, e esta casa se chama país de nascimento, para nós o Brasil que precisamos aprender a amar com seus defeitos e qualidades, para termos motivação suficiente que nos leve além das redes sociais, e promova engajamento em causas políticas altruístas, democráticas, humanitárias.

Eles expulsam os brasileiros e o Brasil haverá de receber os deportados. Mas essa história precisa liberar outros tons, que não sejam apenas lamentos. Uma terapia social coletiva que nos transmita sentimento de pertença, será um começo ou um recomeço interessante.

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