O ouro de 2016

Correio Braziliense

Pela primeira vez na história, o quadro de medalhas, com toda a honra que cada conquista representa, fica em segundo plano para o Brasil no encerramento de uma Olimpíada. Quando o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, receber hoje a bandeira olímpica na solenidade final dos Jogos de 2012, em Londres, corações e mentes dos brasileiros — em especial dos medalhistas — serão transportados para o futuro, mais precisamente para 2016. Na ocasião, o país terá o até então inédito grande orgulho de sediar o maior evento esportivo do planeta.

Desde que a capital fluminense alcançou o privilégio e o desafio, em 2009, a nova realidade contagiou a nação a ponto de os investimentos no setor terem duplicado em relação aos Jogos de 2008, em Pequim. E esse é esforço que vem num crescendo a partir de 2001, ano da entrada em vigor da Lei nº 10.264, que destina 2% da arrecadação bruta das loterias federais aos comitês Olímpico (COI) e Paralímpico (CPB), na proporção de 85% e 15%, respectivamente.

Depois,  vieram a Política Nacional do Esporte, em 2005, e a Lei de Incentivo ao Esporte, em 2007. Essa última permite às pessoas físicas e às jurídicas aplicarem em projetos esportivos parte do que pagariam de Imposto de Renda. Resultado: para os Jogos de Londres, nossos recursos financeiros bateram a marca de R$ 1 bilhão, só ficando 30% aquém do montante gasto pelos norte-americanos. Mas há muito mais a fazer.

Com 190 milhões de habitantes, somos o quinto país mais populoso do mundo; os Estados Unidos, com 314

milhões, estão em terceiro lugar. Contudo, enquanto concorremos em Londres com 259 atletas, eles levaram 530. A disputa precisa e pode ser menos desigual. E o primeiro passo é fazer do Rio-2016 o ponto de partida, não o fim, para a arrancada capaz de trazer ouro, prata e bronze para o Brasil na medida justa do seu potencial humano.

Para tanto, é imprescindível olhar para a origem dos Jogos, em Olímpia, ainda na Grécia antiga. A disputa se dava entre amadores, base sem a qual a formação de desportistas de ponta é enormemente prejudicada, pois é a partir dela que sobressaem os fenômenos. Portanto, 2016 deve ser, desde já, uma usina de energia olímpica em nossas escolas, com investimentos maciços. Sem esquecer os atletas prontos para brilhar no Rio, urge dar vez àqueles que levarão pelo menos uma década de treinos para começar a superar limites.

A chance se coloca, inclusive e sobretudo, para a superação do atraso da rede pública de ensino do país. Afinal, atletas olímpicos, mais até que simples mortais, dependem não apenas de se destacarem em tal ou qual modalidade. Também precisam se comunicar bem — exigência natural de patrocinadores ávidos por colar a imagem em vencedores que saibam levar a mensagem das empresas — e estarem prontos para profissão mais duradoura. Ou seja, se fizer o que lhe cabe, ainda que 2020 não traga tantas medalhas quanto pode conquistar, o país já merecerá o ouro por haver rompido a barreira do retrocesso escolar e dado aos jovens oportunidade de vida saudável, longe das drogas, do crime e das ruas.

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