O despreparo de Alagoas para lidar com as mudanças climáticas

Por Silvio Rodrigo

Em Alagoas, quando não se faz política pelo medo, se faz pela falta de tudo.  Com as mudanças climáticas, as famílias padecem cada vez mais com eventos extremos e não é incomum ter medo das chuvas, principalmente em áreas com histórico recente de alagamentos, enchentes e enxurradas.

Perder tudo em uma enchente é o terror que nenhuma família quer passar, mas as formas de participação nas decisões que incidem sobre esta problemática é para poucos. E, ao que parece, ainda não é reluz aos olhos da classe política local.

Todo ano com possibilidade de grandes acumulados de chuva é assim: avisos meteorológicos são emitidos, previsões são feitas com elevado grau de qualidade técnica, mas as políticas continuam as mesmas.

A cesta básica politiqueira, disfarçada de humanismo, fraternidade e paternalismo, é a política social mais fácil de ser levada a cabo, mais rapidamente aprovada e que gera efeito imediato na opinião pública.

Não é que não tenhamos profissionais e intelectuais que possam levar o tema adiante, mesmo neste estado precário à inovação científica. Não é que a dinâmica de investimentos públicos não possa contemplar projetos com maior acurácia técnica em engenharia e planejamento urbano.

É que o atraso, medida preventiva de manutenção do poder, está a frente de qualquer medida de efeito longevo e que impacte realmente na vida das pessoas.

O atraso alagoano é a face mais cruel da reprodução social da dominação da institucionalidade política e da normalização do pressuposto antidemocrático e oligárquico dos agentes em disputa. A Alagoas senhorial decide tecer permanências no gozo simbólico de brazões políticos, onde mais vale a calmaria dos grandes salões onde as decisões são tomadas com whisky e acepipes.

É claro que não é para o povo as graças desses ambientes seletos, jamais a chuva chega aos palácios e prefeituras como chegam nas casas precárias e nas ruas sem a devida drenagem urbana, mas pedir o óbvio se torna parte essencial da política local.

Esse é o sentido desse esforço preventivo das classes dominantes: impedir desejos maiores, anseios insolentes por qualidade de vida, o mínimo a ser feito é o tudo possível e o que se consegue é, no final de tudo, o que mantém o atraso.

Não é trágica a condição alagoana, não é aberrante o terror político das oligarquias: é a eficácia pragmática de um projeto, de um sentido específico das relações de produção no capitalismo periférico.

.