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O desafio histórico dos trabalhadores

Eis a cidade de Maceió que atrás de suas lindas paisagens naturais carrega um emblema de contradições e desigualdades sociais marcantes.

Mostra, além das delícias da comida regional e da calmaria dos mares de sua orla, uma organização socioeconômica que reflete atraso, economia estagnada e desemprego.

Obviamente não é prudente pensar que ela esteja separada de um contexto nacional.

A última PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua) realizada pelo IBGE, fechou em 11,8% de desempregados no 3º trimestre do ano de 2019.

No contexto regional, o Nordeste fecha em 15% a taxa de desemprego, sendo a região que apresenta maior índice de desocupação.

Cheio de chagas históricas, o Nordeste vivencia, ainda, consequências marcantes de um passado colonial e de um persistente modelo econômico sob as insígnias de famílias tradicionais que tomam para si o “território da capitania” através da enorme concentração fundiária e de renda.

O território, apesar de dotado de uma natureza exuberante, hoje apresenta um solo exausto pelas monoculturas e violências ambientais das oligarquias agrárias.

No Nordeste, este passado sobrevive como um fantasma que assombra as novas gerações com toneladas de aflições que em maior ou menor grau ratificam as experiências dos seus antepassados. Sobra-nos uma vida precária, de atraso socioeconômico, com poucas garantias sociais e indicadores sociodemográficos alarmantes.

Alagoas, importante peça na engrenagem da produção açucareira na região, tende a conservar os horrores da precarização do trabalho e de quem trabalha, imprimindo os retratos da pobreza e da miséria nos municípios do estado.

Em Maceió, o conflito entre modernização e atraso é expressivo. Os setores da economia ligados a administração pública, serviços e comércio protagonizam baixa produtividade, apesar de apresentar crescimento, corroborando com um cenário estrutural de desigualdade na distribuição de renda.

Por outro lado, a informalidade reposiciona o trabalhador em outras sendas de precarização. O desespero econômico já é generalizado e ecoa sobre aqueles que a juventude é consumida pelo dia a dia nos ônibus, vendendo pipocas e doces. Jovens que, muitas vezes, a escolarização deixou marcas negativas profundas ou nem chegou perto de suas realidades.

Mas não para por aí: existe uma juventude universitária e com ensino superior completo que agoniza em entrevistas de emprego onde são educadamente convidadas a uma corda bamba: ou aceitam qualquer coisa ou ficam sem nada. Anos de estudo pesam na consciência: “deveria ter me preparado mais”, assim chega à ilusão de que este problema é só deles, isentando as contradições do capitalismo numa cruzada individual contra si e as próprias competências.

Para vender-se, pôr-se a disposição de um mercado de trabalho cravado de injustiças e submissão, é necessário calcular bem o próprio valor que, consequentemente, é medido pelas condições materiais que os mantiveram até o presente. Não se trata de determinismo, mas precisamos observar que condições mínimas são necessárias para melhor atender às exigências do mercado.

Na atualidade o mundo do trabalho é complexo, organizado em uma morfologia que comprime quem trava uma luta constante por sobrevivência material e social, alcançando a subjetividade com a resignação pelo cansaço. A superexploração do trabalho é garantida para as multinacionais e grandes organizações.

A flexibilização do amparo jurídico ao trabalhador desenha as vias da precarização, no entanto, nada é tão sintomático como a desmobilização sindical e trabalhista, nublando e distanciando da realidade material da classe trabalhadora a consciência de sua força intrínseca.

Quem ri por último, ri melhor?

Protestos no Chile e insurgências na América do Sul levantam a convicção da coragem da classe trabalhadora frente a ofensiva que visa desmontar as condições básicas para uma vida digna.

É da natureza da luta de classes os momentos de tensão mais acirrada, onde os conflitos de interesses se manifestam pela ordem ou contra a ordem.

De qualquer maneira, o Brasil tem caminhado pouco em direção a esta tendência.

Porém nada está perdido, enganam-se os teóricos do fim da história. Respiram e vivem os movimentos e organizações que conseguem ver novos horizontes além dos horrores provocados pela desigualdade marcante e persistente no território latino-americano.

Está marcado na memória do nosso povo, mesmo que a organização política esteja enfraquecida, a possibilidade de rebelar-se. Nas terras do Brasil, sempre existiram os momentos em que o povo operou os movimentos da história. Urge a esperança nos laços que comemoram a energia da revolta.

Entre a luta e a barbárie, sorriremos no final!

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