O culto à ignorância

Ana Dubeux- Correio Braziliense

O corpo humano é uma máquina poderosa por si só. Foi talhado para funcionar com perfeição. Existem duas formas eficazes de turbinar essa engrenagem: adotar uma alimentação saudável e fazer exercício físico. E ponto final. Todo o resto é um risco desnecessário. O uso de suplementos proibidos pela Anvisa com fins estéticos ou para fornecer energia aos concurseiros, conforme reportagem publicada pela editoria de Cidades, é um perigo e uma prova de como somos despreparados para encarar uma mudança de hábitos em prol do bem-estar.

É muito mais fácil recorrer a um aditivo para ganhar músculos e queimar gorduras, consumindo pílulas diárias e enchendo os cofres dos laboratórios farmacêuticos. Enveredar por essas soluções mágicas é, no entanto, um caminho nada promissor para a saúde. Há consequências sérias ignoradas por quem está interessado no corpo moldado a suplementos. O mais curioso é que grande parte dos consumidores dessas drogas disfarçadas já frequenta a academia, faz exercício e tem um corpo bonito. Querem mais músculos e eliminar qualquer vestígio de gordura.

O Distrito Federal é a terceira unidade da federação em número de academias e também um dos recordistas na busca por qualidade de vida, segundo estudos divulgados pelo Ministério da Saúde. Também tem a população com mais anos de estudos e alta renda per capita. A despeito disso, reinam a ignorância e o culto à aparência física. Em nome desse desejo cego do corpo perfeito, há quem lucre. Basta mencionar o desejo de usar anabolizantes e/ou suplementos para ter fácil acesso a eles. A falta de fiscalização, uma chaga neste país, permite o comércio livre dessas substâncias, mesmo as que são oficialmente proibidas. O lobby poderoso da indústria de medicamentos também trabalha para deixar tudo mais acessível, mais palatável e menos grave: bastam umas letrinhas miúdas com advertências como salvo-conduto.

Acelerar o metabolismo, fazer o corpo trabalhar mais rápido, levando-o a exaustão sem que fisicamente, a curto prazo, o prejuízo seja sentido. A que preço? Quais os impactos do uso dessas drogas? Não se pode dizer que essas respostas sejam desconhecidas de todos os usuários. Muitos sabem e aceitam comprar o risco. Flertam com o perigo em nome de 0% de gordura e uma barriga tanquinho. Um dia terão que pagar por isso.

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