Repórter Nordeste

O campo político determina tudo, inclusive a violência, diz Edson Bezerra

O antropólogo Edson Bezerra, palestrando em uma audiência pública que enfocava a violência urbana em Maceió,

Bezerra: "Estamos a falar da morte numa das regiões geográficas mais belas do Brasil!"

lamenta:

“Estamos a falar da morte numa das regiões geográficas mais belas do Brasil!”

Podemos redarguir dizendo que há morte em todos os lugares. Contudo, haveremos de admitir, que as proporções as quais chegamos caracterizam uma guerra civil. Poderíamos ter sobressaído em aspectos menos mórbidos nos relatórios nacionais e internacionais, caso existisse prioridade de investimento na qualidade social de vida do maceioense.

“Qualquer evento nesta cidade está comprometido, pela falta de mobilidade urbana.”

O antropólogo ressalta esse problema que se apresenta insolúvel, confinando o maceioense em áreas restritas à proximidade do lar. A má qualidade do transporte público é tema batido, e esquecido pela administração da cidade.

O que isso tem a ver com violência?

Denota a má qualidade de vida social, que por sua vez, interliga-se a outros aspectos da mesma situação de abandono alimentada pela ausência de políticas públicas eficazes para melhorar as perspectivas para o presente e o futuro.

“A degradação das praças” de Maceió caracteriza fortemente o descaso com a população e seus interesses, seus direitos. Tudo agravado pelo “analfabetismo cultural das elites”, que só enxergam benefícios individuais a partir da máquina pública, relegando os benefícios coletivos ao “por fazer”.

Para Edson Bezerra “sociólogos e antropólogos estão invisíveis”.

Fenômeno compreensível em um contexto no qual os políticos bastam-se com seus cabos eleitorais e apadrinhados. Estes resolveriam tudo, pois ocupam muitos cargos, no entanto, não conseguimos ainda ter competência por indicação.Eis o quadro social resultante dessa prática!

O resumo de tantas desordens e descasos, é uma cidade que caminha a esmo. Estonteada na condução histórica da opressão que faz Alagoas um estado de calamidade pública.

Bezerra avança resumindo o “status da elite alagoana, em: 1º – Posse da terra (latifúndio, usina…) 2º – Exibição de bens suntuários (luxo, posses…) 3º – A posse do poder político.”

Ou seja, nesse universo não tem espaço para termos como “coletividade”, “cidadania”, “democracia” e significados correlatos.

Ortodoxa e fechada sobre os próprios valores e interesses imediatos, essa elite domina a política local com agressividade ferrenha. Discordar de seus atos é sempre um “pecado” digno de punição até os longevos da posteridade.

Bezerra analisa: “O campo político determina tudo, até a visão da mídia.”

“A baixa estima do alagoano vem desse campo de memória ligado à violência!”

Esse entrelaçar de fenômenos sociais e psicossociais de relevância, conjugados na atualidade do tráfico e da miséria, fizeram de Maceió um expoente do crime.

Crimes anunciados! Previstos!

Os culpados estão na representação dos empossados nos gabinetes até a figura espúria de quem aperta o gatilho, enfia a faca ou atira a pedra.

Nada é insolúvel em sociedade.

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