BLOG

O Brasil científico está no Nordeste: Santana do Cariri

Em um momento histórico no qual parte das regiões brasileiras consideradas mais desenvolvidas economicamente, como Sul e Sudeste, concentram as representações políticas mais retrógradas e anticiências em amplas tentativas de influenciar todo o país com discursos parlamentares eivados de ignorância e políticas públicas arcaicas, ferindo o conhecimento científico de maneira frontal, é no Nordeste que encontramos o exemplo de iluminação a demonstrar no meio do sertão do Cariri que é de conhecimento em punho que se levanta a estima de uma nação.

Falamos especificamente do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, do município cearense de Santana do Cariri, que além de abrigar maravilhoso acervo reportado ao período Cretáceo do mundo, promove o saber desde a nascente, com projeto que envolve a infância e a adolescência do lugar na atuação completa como guias do museu.

A pequena Julia tem muito orgulho do lugar onde nasceu. A região do Araripe é área limítrofe com os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, formando assim um dos mais valorosos sítios paleontológicos do país. Portadora deste conhecimento e desinibida na fala, aos 11 anos, fica feliz passando parte do dia a informar visitantes e turistas sobre o que aconteceu com aquele pedaço de sertão que já foi mar, e domina os termos com fluidez e elegância. A bolsa que recebe é pura valorização dessa dedicação ao estudo e apropriação da pertença histórica em um país que sofre de amnésia intencional com relação ao seu próprio valor.

O Museu de Paleontologia foi fundado em 1985 pelo prefeito do qual leva o nome, e no ano de 1991 foi doado a URCA – Universidade Regional do Cariri, sendo a esta integrado como núcleo de pesquisa e extensão, mantendo ativa a escavação permanente na Bacia do Araripe, onde ocorre uma coleta sistemática de fósseis, que vão desde troncos petrificados a moluscos, artrópodes, peixes, anfíbios e répteis, entre os quais tartarugas, lagartos, crocodilianos, pterossauros e dinossauros.

A população de Santana do Cariri e Nova Olinda convivem com estes registros geohistóricos de maneira muito íntima, por isso não será estranho encontrar um fóssil na varanda, no assoalho ou mesmo no banheiro de um restaurante, pavimentado com pedra cariri, como ocorreu com esta que aqui escreve.

Se ainda não existe um rigor no lugar que tem tanto a mostrar sobre o passado, os esforços da URCA e do Museu para impedir o tráfico de fósseis passa pelo trabalho educativo que desenvolvem com a população, desde seus mais jovens.

Mais do que investir em atrações explorando a fama dos dinossauros o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri apresenta inúmeros organismos fossilizados, que marcaram sua passagem pela vida pretérita do lugar. Na praça central segue exposta o exemplar da paleoflora nos exemplares arbóreos petrificados.

No coração do Nordeste, o Brasil não perde tempo com teorias conspiratórias contra saberes científicos. E o povo brasileiro pode se orgulhar do trabalho educativo que promove estima e possibilidades de elevação cultural, na Bacia do Araripe, nas estradas sertanejas do Cariri.

 

VEJA TAMBÉM

SOBRE O AUTOR

..