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O amor que não cabe no peito, de Rosane Cordeiro

Rosane Cordeiro é natural de Florianópolis. Graduada, mestre e doutora em Letras-Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Como leitora e mulher que escreve, admiro a escrita de mulheres.

Nesta sinergia literária ouso construir um modesto mosaico poemático na vertente neológica brasileira que une minha leitura nordestina à escrita sulista de Rosane, autora de contos, crônicas, poemas, resenhas feministas em um tempo insólito.

“O amor não cabe no peito” é um livro especial que “queria esquecer o esquecido/não queria ser poeta de um mundo caduco”.

Com as aspas do próprio livro apresentamos um dos escritos dessa diva, uma escritora “esfomeada por transgressões”. Mas que ao mesmo tempo extrapola designações, sendo “poeta do acaso/cronista incomodada com os rumos da cidade/avessa à zona de conforto”.

Sua escrita é composta de jovial madureza, unindo o tempero identitário da Ilha de Santa Catarina às histórias de vida que a cercam, sem temer a ação do tempo. Afirmando:

“Há quem tema o espelho/ eu temo me enxergar outra”.

Ser a pessoa que se ama primeiro é aprendizado raro, encontrado naqueles seres de verve libertária. Os que possuem tino especial de quem nasce sabendo que “mãos de pássaros levariam ao intangível”, por isso aprenderam a voar.

Enxergando do alto, a autora percebe os erros da rota comum e questiona em poesia: “fizeram-nos desacreditar em nós mesmas”.

A escrita de Rosane elenca sem pudor os injustos veredictos.

“Tem uma regra no caminho

no caminho tem uma regra

mancha vermelha enfeitando calça

no início

no meio

no fim

o caminho é beco sem saída

como um mioma a sangrar pelas pernas

olhos e pés fatigados

um eco

no jornaleco: boteco fechou

sangue secou”.

Condições sócio-biológicas da mulher. Corpo e comércio de vida. Que forte! Que fim!

Autora de voz necessária, seu escrito reconhece a pobreza da sociedade do lucro, onde “educar é caro demais/amar é caro demais/só o ódio parece moeda de devolução”.

Mas a palavra de mulher/poeta sabe que mesmo na escuridão histórica “resta um toco de vela/que tenta iluminar/o pouco de humano que resta”.

Inspirada na leitura que diz ser “proibido morrer sem conhecer o mundo”, viajo com a escritora e convido a você leitor para conhecer a obra desta catarinense de impacto embelezador.

“Como ninguém é leitor de si mesmo/o texto precisa ultrapassar o ventre de quem o gerou/ materializar-se na memória de quem o sente desde os primeiros suspiros/ questionando-os ou não/ concordando ou não com suas ideias”.

Sigo viajando. Leitura boa faz efeito.

 

SOBRE O AUTOR

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