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O Alagoas Tem Pressa, por caminhos diferentes

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

Para tentar atrair a atenção do Governo Federal, o Governo alagoano investe em um novo carro chefe: o Alagoas Tem Pressa- guarda chuva de ações nas áreas sociais, um upgrade ou o nosso “sururu com pão de queijo”- referência ao modelo mineiro de recuperação econômica, mantra da atual administração alagoana, seguindo os passos da presidente Dilma Rousseff- de erradicar a miséria.

O Alagoas Tem Pressa carrega marcos importantes. E, de longe, não é uma invenção original.

O Leviatã ou catatau de ações sustenta uma divisão: a partir do Alagoas Tem Pressa encerra-se, em definitivo, a era Sérgio Moreira no Palácio República dos Palmares; passa a ganhar força Luiz Otávio Gomes- o rosto do novo programa.

Ambos eram rivais.

E, na saída do desafeto- e se existir um novo modelo- exige-se que os restos do outro sejam descartados.

E o modelo luisotaviano erradica também um dos cardeais do pensamento brasileiro: Ignacy Sachs- trazido por Moreira- e que imaginou duas revoluções no lugar mais pobre do Brasil: a Verde- investimentos no campo a pequenos produtores- e a Azul- aproveitamento dos recursos hídricos, incluindo a pesca.

A mão de obra para isso? Mais da metade da população alagoana, que vive abaixo da linha de pobreza.

“A criação de emprego digno e decente deve pautar tanto a expansão quanto a geração de vagas alternativas no esforço para reduzir a pegada ecológica. Esses elementos devem pautar a formulação dos planos de desenvolvimento sustentáveis e inclusivos em esfera nacional”, disse Sachs- em uma recente entrevista a agência Carta Maior.

Por que seguir adiante por este caminho? Mais uma vez, Sachs: “O que é preciso é mudar os rumos do desenvolvimento para que ele seja inclusivo socialmente; e, número dois, tenha baixo impacto ambiental. Para isso é necessário planejamento, com ampla participação da sociedade”.

O Alagoas Tem Pressa mostra o tamanho do problema em Alagoas. Mas, e os impactos de suas ações? O plano não diz.

Planos de desenvolvimento local nas áreas de plantação de cana de açúcar- onde está concentrada a miséria alagoana? O plano não diz o que fazer.

Reestruturação da dívida pública, hoje em R$ 7,9 bilhões e o comprometimento de 15% da Receita Corrente Líquida com a União. Planos de trabalho para se discutir o assunto? O plano não aborda isso.

Nem ações simples para as 17 mil famílias que perderam as casas nas enchentes de junho do ano passado sequer servem de mote ao compêndio, um volume egóico ou excessivamente narcisista.

Com uma economia federalizada, dependente da renda dos aposentados e das transferências de fundos federais, basta perceber que no lugar mais pobre do Brasil os investimentos do Tesouro Nacional são expressivos, em 2011.

Em Saúde, R$ 85 milhões. A Secretaria Estadual de Saúde é investigada pelo Ministério Público Federal- tanto na mortandade de bebês na maternidade Santa Mônica quanto nas oscips contratadas para administrar hospitais.

Na Educação, o Governo Federal transferiu R$ 15,6 milhões. Não é o modelo educacional alagoano quem está em evidência, mas as escolas caindo aos pedaços, à beira de barreiras condenadas pela Defesa Civil ou os tetos devorados por cupins.

Em gestão ambiental, R$ 74,9 milhões, no Estado que é o segundo maior produtor de açúcar e álcool do Nordeste- perde para Pernambuco- e o terceiro maior produtor de gás natural do Brasil (o segundo maior do Nordeste), riqueza passando longe das áreas exploradas pela monocultura ou recebedoras dos royalties.

O Alagoas Tem Pressa inventou a roda aos que ainda não acreditavam na existência dela.

E rasgou as discussões do primeiro Governo porque Narciso, o belo, acha feio tudo o que não é espelho.

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