Repórter Nordeste

Novo estudo mostra que a saúde ocular repercute no organismo inteiro.

Theo Ruprecht – Saúde

Doenças que acometem os olhos não são apenas uma ameaça à visão, mas um risco para o bem-estar – afinal, vislumbrar um mundo sem imagens nítidas é, de certa forma, passar a encarar a própria vida de uma maneira diferente. Exagero? Pois essa linha de raciocínio instigou oftalmos a oferecer tratamentos, digamos, mais integrais, incluindo aí uma abordagem psicológica, às vítimas de degeneração macular, catarata… Por outro lado, isso impediu que enxergassem outra hipótese nesse cenário obscuro: males que acarretam algum grau de cegueira talvez comprometam a mente e o corpo também por razões puramente fisiológicas.

Patricia Turner, oftalmologista da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, é uma das especialistas que levantaram essa suspeita. “Pacientes acima dos 50 anos com retinose pigmentar, distúrbio que ataca a retina, apresentam 95% de risco de sofrer com insônia, uma incidência alta demais para ser justificada pelo medo de ficar cego”, argumenta. “O glaucoma também é associado a outros problemas que não são relacionados aos olhos”, completa.

Para encontrar o que estaria por trás de dados assim, a cientista conduziu uma série de experimentos e revisou outros feitos ao redor do mundo. A conclusão é que transtornos oculares são prejudiciais dos pés à cabeça por influenciarem o ritmo circadiano, o relógio biológico controlado pela alternância entre o dia e a noite. “A retina possui células que percebem a luz, mas não com o intuito de formar imagens, e sim de avisar o organismo se está claro ou escuro”, ensina Fernando Louzada, neurocientista da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. É por meio dessa informação que inúmeras funções são reguladas, desde enviar a mensagem de que está na hora de dormir até produzir anticorpos que contra-atacam infecções. Acontece que algumas doenças oculares destroem essas células ou dificultam a chegada de raios luminosos a elas.

Os achados que relacionam o estado dos órgãos da visão com o do restante do organismo abordam principalmente a catarata, a retinose pigmentar e o glaucoma. Não há até agora estudos contundentes sobre miopia, astigmatismo e hipermetropia. “Quadros assim impactam na nitidez dos objetos, mas a integridade da retina ou a quantidade de luz que chega até ela não são afetadas”, avalia o oftalmologista Roberto Battistella, chefe do Departamento de Neuro-Oftalmologia do Hospital Medicina dos Olhos, em São Paulo. Ou seja, pelo menos em teoria eles não desajustam nossos próprios ponteiros e, logo, estão por ora livres da acusação de promoverem estragos longe dos olhos.

O que parece mexer com a habilidade da massa cinzenta em distinguir entre a tarde e a madrugada é a tendência do ser humano de ficar cada vez mais tempo dentro de locais fechados, sob iluminação artificial. Esse hábito típico da vida nas grandes cidades faz com que à noite recebamos luz em excesso, enquanto de dia essa incidência fica aquém da necessária para deixar o ritmo circadiano com precisão suíça.

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