Lamentamos que tais posições acabem por respaldar, ainda que indiretamente, uma visão que silencia a dor das vítimas de violência sexual e desconsidera a complexidade das situações vividas por tantas mulheres brasileiras.

Para o espiritismo, defender o Estado laico e o direito de escolha das mulheres não é apenas uma posição política legítima — é, sobretudo, um compromisso com a ética do cuidado, com a liberdade de consciência e com a caridade, que Kardec apresenta como a mais elevada das virtudes.

Nesse sentido, a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE) manifesta sua solidariedade às mulheres brasileiras, especialmente àquelas que se sentiram desrespeitadas ou invisibilizadas por posicionamentos que não representam a totalidade do pensamento espírita no país.

Reafirmamos: a FEB e a Abrame não falam em nome de todo o espiritismo brasileiro. Representam um segmento arcaico que está em desacordo com muitos princípios fundamentais do próprio espiritismo, como o progresso moral, a liberdade de consciência, o alinhamento com a ciência e o primado da razão.

A ABPE, junto a diversas outras entidades e coletivos, atua na construção de um movimento espírita comprometido com os valores democráticos, os direitos humanos e a justiça social — coerente com o legado precioso de Allan Kardec e atento aos desafios do nosso tempo.

Por isso, apelamos ao Supremo Tribunal Federal (STF) que, ao considerar os debates públicos sobre temas sensíveis como a descriminalização do aborto legal, leve em conta a pluralidade existente dentro do espiritismo brasileiro, ouvindo também as vozes dos grupos progressistas que há décadas constroem, com ética e responsabilidade, um diálogo respeitoso entre espiritualidade, ciência e justiça social.

Em nome da ABPE, assinam:

Dora Incontri

Marcio Sales Saraiva

Mauricio Zanolini

Texto publicado no endereço abaixo:

Nota pública da ABPE – sobre a criminalização do aborto legal | Blog da ABPE