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Nós – jornalistas – também somos vítimas da violência

Ricardo José Oliveira Ferro – Especialista em Processos Midiáticos e Novas Formas de Sociabilidade (Ufal), Jornalista, Radialista e Secretário Executivo do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas.

Esta afirmação pode até parecer, para alguns, exagerada, fantasiosa ou excessiva. Mas, não é o que mostra o Relatório 2014 sobre Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), publicado no último mês de janeiro. O ano de 2014 se mostrou mais um período violento para nós jornalistas brasileiros. Foram 65 casos de agressões físicas e verbais durante manifestações; 17 episódios de agressões físicas, 12 ocorrências de cerceamento à liberdade de expressão por meio de ações judiciais; 11 ameaças ou intimidações; 7 agressões verbais; 3 assassinatos de jornalistas; 3 ocorrências de impedimentos ao exercício profissional; 3 casos de prisões/detenções; 3 fatos de violência contra organização sindical; 2 fatos de assédio político; 2 atentados e um caso de censura.

Nós – jornalistas alagoanos – que desempenhamos nossas funções aqui em solo nordestino, estamos inseridos num contexto político e social que se revela como a segunda região mais violenta do país para os jornalistas. Ao todo, foram registradas 24 ocorrências, o que corresponde a 18,6% do mapa da violência nos estados. O estado líder em violência aqui no Nordeste é o Ceará (9 ocorrências); em seguida aparece Alagoas (5 casos), Bahia (4 fatos violentos), Maranhão (3 episódios), Pernambuco (um caso) e Sergipe (duas incidências de violência). No Brasil, a maior parte dos jornalistas vítimas de violência em razão do exercício profissional do jornalismo é do sexo masculino.

Aqui em Alagoas, os jornalistas Catarina Martorelli e Josenildo Lopes, ambos da TV Gazeta de Alagoas, foram vítimas de agressões quando faziam uma reportagem sobre estacionamento irregular de veículos em calçadas, no bairro da Jatiúca; a jornalista Thayanne Magalhães, do portal Tribuna Hoje, foi ameaçada, por meio de um telefonema e de uma mensagem em sua página no Facebook; os jornalistas João Mousinho e Fernando Araújo, do Jornal Extra, sofreram cerceamento à liberdade de imprensa por ação judicial, assim como Odilon Rios e Vitor Avner; e as equipes de reportagem do G1 Alagoas (Michele Farias e Wellinton Bezerra), Jornal Gazeta de Alagoas (Maikel Marques, Ailton Cruz, José Luciano da Silva) e TV Gazeta de Alagoas (Catarina Martorelli e Josenildo Lopes) foram impedidas por manifestantes de fazerem a cobertura de um protesto ocorrido no conjunto Colibri, no bairro Clima Bom.

Há algumas iniciativas que merecem destaque em relação ao combate à violência contra jornalistas no mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um plano de ação para a segurança dos jornalistas e a questão da impunidade, no qual faz recomendações aos países para que o referido problema seja tratado como uma questão de Estado. No Estado do Rio de Janeiro foi aprovada a Lei 6.929/2014, que obriga as empresas de comunicação, sediadas ou com sucursais no Estado, a fornecerem Equipamentos de Proteção Individual (EPI) aos jornalistas.

A Fenaj defende que o jornalismo é uma atividade indispensável para a constituição da cidadania. Para a nossa federação, o Estado brasileiro, as empresas de comunicação e a sociedade em geral precisam reconhecer a importância do Jornalismo e do jornalista para o aprimoramento e a garantia da democracia. Como decorrência dessa importância, precisam proteger e levar à prática por meio de providências concretas de prevenção e combate à violência contra jornalistas e o fim da impunidade.

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