No pior, colégio público de 1º mundo sem professores

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Cepa tem estrutura de dar inveja a colégios brasileiros, mas quase nada funciona

Alagoas tem o pior ensino do mundo em Matemática, Ciências e Leitura, segundo o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, sigla em inglês). Os dados comparam 65 países e se Alagoas fosse colocada lado a lado com os outros lugares no mundo, ficaria em último lugar.

Para alunos e professores, faltam mais profissionais na sala de aula, melhores condições do trabalho e mais “interesse”.

No maior complexo de escolas públicas de Alagoas, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (Cepa), a estrutura é de fazer inveja a muitos lugares no País: tem 14 escolas e capacidade para atender 40 mil alunos, com duas piscinas olímpicas, três ginásios poliesportivos, campos de futebol, observatório astronômico, projeto com hortas, quatro laboratórios de matemática, ciências e informática, uma estação de TV, duas estações rádios, um teatro.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal), menos da metade dos alunos estuda lá. E quem estuda fica do lado de fora das salas, embaixo de árvores ou perambulando pelas ruas.

– A gente não tem professor de Português e Ciências, disse a aluna do 8º ano, Vanessa Oliveira, de 14 anos.

– Meu sonho é ser médica, mas não tenho coragem de enfrentar o Enem [Exame Nacional de Cursos]. Como vou fazer a prova se tenho dificuldade até na tabuada?, explica Joyce Hellen, de 13.

Com 1050 alunos, a escola Maria José Loureiro, uma das 14 no Cepa, enfrenta uma situação pouco comum na maioria das instituições de ensino no Estado: laboratórios de Ciência e Matemática. A estrutura atrai, mas os dois laboratórios estão fechados no cadeado. Motivo: não há profissionais para operar os instrumentos.

– Eu dava as aulas, mas tive de suspender porque estou com a coluna doente, explica o professor Emídio Silva, de Ciências, que trabalha os dois horários na escola. Ele mal pode suspender a mão para escrever no quadro branco Neste laboratório de Ciências a gente produzia até sabão com óleo de cozinha. Os alunos ficavam fascinados. Hoje está tudo empoeirado, analisa.

A escola tem 16 salas de aula, mas faltam professores de Português e Matemática.

Há dois anos atrás, a Ufal [Universidade Federal de Alagoas] formou apenas um professor de Química, aponta Silva.

Os alunos também reclamam da merenda escolar: suco “ralo” com bolacha. Dizem que o pátio está sujo. A escola tem três funcionários para a limpeza, nos três horários.

– Os banheiros são imundos, diz Walisson Luis, de 15 anos.

– Ficamos três meses sem professor de Matemática, completa o aluno do 9º ano “C”.

– Eu não sei nem multiplicar. Nem sei quanto é 8 vezes 9. Como vou fazer o Enem assim?, pergunta Bárbara Vitória, de 15 anos.

– A gente quer que o governador ofereça condições para a gente estudar, diz Ana Clécia de Macena, de 15 anos.

Sem professores para preencher o quadro, a Maria José Loureiro tem monitores, que não tem vínculo empregatício com o Estado nem direitos trabalhistas. Os contratos duram dois anos, no máximo. Eles recebem salários com dois ou três meses de atraso.

– Os monitores sustentam esta escola. O problema é o conjunto: a falta de disponibilidade dos aluno em estudar; a falta de pessoal para operar os laboratórios que temos aqui, e todos estão fechados. E a estrutura destes laboratórios é impecável, explica a diretora da Maria José Loureiro, Juliana Amorim.

Por risco de cair, a Secretaria Estadual de Educação e Esportes transferiu sua sede, que funciona provisoriamente no Cepa desde o ano passado. O Sintel entrou no Ministério Público Estadual para investigar a reforma de metade das escolas da rede, sem licitação. Para o sindicato, foram gastos R$ 52 milhões a mais. O MP abriu ação para investigar a compra de kits escolares, que registraram sobrepreço de R$ 21 milhões.

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