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No Dique Estrada, política de cabresto transforma até crianças em prostitutas

Concentração de renda parece não combinar com menos intervenção do Estado.

Afinal, não é injusta a riqueza. Injusto é a miséria ainda ser comparada a indolência ou o aparelho ideológico repetir que “Deus quis assim”.

Alagoas, segundo Estado mais pobre do país, aguentaria conviver sem o Bolsa Família ou os benefícios de prestação continuada? Ou as aposentadorias que garantem a existência de dezenas de pequenas feiras pelo interior?

A resposta parece ser simples. Mas nela estão incluídos componentes políticos.

Queimar, colher, transportar e moer cana de açúcar são atitudes políticas.

Crimes ambientais e humanos, também.

A atuação de órgãos fiscalizadores também é atitude política.

O papel do Governo e prefeituras também é político nesta cadeia de riqueza para uns pouquíssimos.

Quando usinas moendo cana e produzindo álcool e açúcar estão invisíveis do cotidiano sócio-histórico, o nome disso é silêncio voluntário.

A política é um mundo de prioridades. Mais silêncios, mais interesses particulares sendo resolvidos longe dos olhos da multidão com a ajuda quase sempre generosa do poder público.

Silêncios em torno da região mais pobre de Alagoas, o Dique Estrada, parte baixa de Maceió.

Quando corpos não se denunciam ao largarem a lama da lagoa Mundaú, crianças se prostituem, adultos aguardam a caridade dos voluntários contra a fome e o frio

O Dique Estrada é uma área de promessas. Fica a 150 metros do gabinete do governador.

Fica em outro planeta, para o gabinete do prefeito.

Deixar o lixo acumulado, a avenida senador Rui Palmeira esburacada, o Monumento ao Milênio abandonado. Tudo isso é política.

Não ajudar na organização da cadeia do sururu, tornando a produção mais profissional é, também, política.

Esta gente é convencida a ser grata pelas casas que recebeu numa enchente há décadas. Ou o caminhão recolhendo a lama de um dique fétido que, se fosse na Ponta Verde, nem existiria.

Manter essa gente dependente do poder público é uma atitude política. Quem tem fome e frio negocia até a vida por um valor barato.

Política para beneficiar políticos. Ano que vem tem eleição. E os políticos voltarão a pagar pelo voto ou fazer acordo com o traficante em busca de mais gente sob a mira das armas.

O Dique Estrada funciona assim. Todos sabem disso.

Todos sabem e o silêncio deles é também política. Política de cabresto. Mas, política.

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