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No conjunto Carminha, o povo não precisa de herois

Ana Cláudia Laurindo- Cientista Social

Se a frase infeliz do povo que precisa de heróis, de Bertold Brecht tem tanta força ainda em nosso tempo, o que dizer de um povo que precisa de mártires?

Lembro do menino que morreu no lixão de Maceió, atropelado por um veículo que carregava o lixo da cidade, lembro a repercussão que esse caso teve e a reação imediata da prefeitura convocando todas as secretarias do município para gerar um serviço improvisado no estilo mutirão sob um galpão ao lado dos detritos, oferecendo naquele momento, algumas assistências à comunidade que havia sido desfalcada em uma vida infantil.

Passada a repercussão na mídia, o galpão já havia esvaziado há muito tempo!

Tenho observado o Conjunto Carminha em alta nas mídias através das assessorias governamentais, mostrando as reações imediatas, de efeito positivo também imediato, após o bárbaro assassinato com esquartejamento de uma moradora do conjunto por traficantes.

O povo televisionado agradece aos gestores o favor de designar funcionários públicos para atuarem ali.

E quando a poeira da indignação passar?

O Conjunto Carminha, voltará a ser terra de ninguém? Área abandonada pelo poder público em todas as instâncias, conhecedora da representação estatal parcamente através de uma escola e algumas rondas policiais?

Não precisa escrever para dizer a um povo qual destino foi traçado para ele, basta permitir que aglomerações de misérias se conjuguem, e logo a população percebe quem manda no território.

Quantas mortes diárias ocorrem na região do Carminha e adjacências? Inúmeras! A particularidade da acima citada, foi o esquartejamento. Os governos não estão comprometidos com a vida humana, apenas com a repercussão dos casos mais gritantes.

Há de convir que as duas formas exemplificadas de martírio não fazem bem para a imagem deles, que investem muito dinheiro público na construção de mitos a respeito de suas gestões.

Certamente o Conjunto Carminha e toda a região circunvizinha do Benedito Bentes clama por ações efetivas dos governos. Mas não há que se bastar com medidas relâmpagos, quase festivas por sobre a imensa dor social que ali se alastra!

As políticas públicas de efeito precisam ser contínuas, planejadas e aplicadas sem atalhos ou negociatas.

Se é infeliz o povo que precisa de heróis, bem desgraçado é o povo que para ter assistências mínimas vez por outra precisar de mártires!

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