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No CFM, cinismo ou desespero na defesa a Bolsonaro?

Houve cinismo ou desespero do Conselho Federal de Medicina (CFM) ao defender o tratamento precoce contra o coronavírus?

A que ponto chegou a desumanização de médicos para sustentar a aliança ideológica do CFM com Jair Bolsonaro?

Por que os achismos do presidente da República, que não é médico, tiveram tanta força discursiva dentro do CFM? Onde estava o povo, o direito à saúde, o direito à vida nas orientações sobre o uso da cloroquina/hidroxicloroquina, sem respaldo da comunidade científica?

Por que o CFM precisa tanto proteger Bolsonaro?

O médico alagoano Emmanuel Fortes, um dos diretores do conselho federal, aparece em vídeo exibido esta semana na CPI da Covid. Faz a defesa do tratamento precoce contra a doença. Para a comissão, existe relação entre o uso de cobaias humanas recebendo o “kit Covid” no Prevent Senior e o CFM. Uma “(…) autorização para matar em nome do desenvolvimento de uma fórmula milagrosa para garantir, como foi dito aqui nesta CPI e no dia de hoje, que era preciso ter algo pra apresentar a sociedade pra que a sociedade pudesse voltar ao trabalho”, como disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Jair Bolsonaro, diversas vezes, defendeu o kit Covid. Fez novamente isso na ONU. Quis o retorno do trabalho presencial, diferente de outros líderes de Estado no mundo. Autoritário, buscou usar o aparato estatal para a imposição de sua mentalidade no povo, ignorando a realidade da pandemia, o avanço do vírus, os leitos superlotados de UTI, a falta de vagas em cemitérios, de oxigênio nos hospitais.

Parece que não havia medo das consequências. Parecia existir uma cumplicidade, uma ação paternalista do CFM com Bolsonaro.

A Defensoria Pública da União foi à Justiça, com uma ação civil pública, cobrando indenização, ao CFM, de R$ 60 milhões, por danos morais coletivos.

Homens são sujeitos de decisão. Na DPU, estes homens veem relações e provas nas milhares de mortes, tratamentos ineficazes e a consciência do conselho neste contexto.

Na Justiça, o poder alcança todos os lados. E existem os que se identificam com homens que são produtos de uma circunstância. Jair Bolsonaro é o produto deste instante, do líder acima de tudo, do negacionismo como política de Estado. Alguém misturado a proteção e impunidade.

Um sistema inteiro protege um homem para ele não virar presa e tenha novas caças para ir sobrevivendo, devorando corpos, domesticando almas.

Afinal, nada está tão ruim que não possa piorar.

Para qual direção estamos indo?

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