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Nas calçadas ou na moral, o Brasil cai

Pelas calçadas caem os mais fortes, que de tantas lutas vilipendiadas perderam a razão para continuar; um corpo tombado e embebido de cachaça identifica aos olhos ausentes cada vítima da desigualdade que nos mata.

Na moral caem os que vestem ternos caros, perfumando a externa capa dos vampiros que sugam a seiva existencial da sua própria gente. São os fracos, que com a mente embebida em estultície cambaleiam pela vida em falsa impunidade. Festejam as vitórias tristes que registram as passagens dos algozes pela terra.

Nas calçadas a frieza do cimento, parece afagar o desgarrado sem nome, enquanto ressona a tragédia de nascer para servir de gado em um país armado, a destruir o arroubo juvenil de seus netos negros. Um suspiro etílico de quem não encontra coragem de abreviar grosseiramente a dor de viver assim.

Nas tribunas sustentadas pela bajulação cotidiana, uma gente insana desfila analfabetismo, aos gritos de “viva eu” na apresentação de projetos malditos, a sufocar ainda mais o coração aflito do brasileiro trabalhador. Queda moral em desfiladeiros de rancor e ódio, ressuscitando crimes encardidos na vergonha bolorenta de não ter evoluído.

Caem nas covas rasas da desesperança o jovem que ainda ontem era uma criança, e cresceu traumatizado pelo próprio sangue derramado, nos amores desbaratados em laços de miséria e violência, não há ciência que explique a continuidade destas histórias condicionadas a não ter outra glória, senão a de resignar ou explodir.

Caem vertiginosamente a cada instante de inação, os omissos que lavaram as mãos, sejam ateus ou cristãos, o compromisso com a vida não tem elo em religião, é broto divino dentro de cada coração.

A queda enfim é rotineira, desde a primeira, inúmeras sucederão. E no esgar da resistência instintiva, o rosto enrugado recebe um carinho da brisa, que é livre e democrática. Acorda o bêbado e segue aos tombos, em busca de uma porta pela qual possa passar, encontrar um afeto ou um similar.

É assim mesmo. Fazer o quê? Cada um cai onde pode!

Uma sociedade de caídos erguerá o Brasil à altura das minhocas enquanto na sala do cinema as pipocas sobrarão, espalhadas pelo chão, como se tudo isso fosse apenas um filme. Fim da sessão, cai no sono. O pesadelo não quer terminar cedo.

Ou cai em si a tempo, ou terá que esperar a próxima sessão.

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