Cresci ouvindo histórias. Algumas de trancoso, outras de memórias. Muitos ditos populares permeavam o cotidiano da minha infância, rica de símbolos e meta-mensagens. Entre elas havia uma que dizia “quem bate esquece, quem apanha lembra”!
É muito conveniente para quem bateu, o sopro do esquecimento. Na maioria das vezes, voltará a bater outra vez.
Quem apanhou, como esquecer?
Como esquecer a violência que adentra a casa da gente e sem pedir licença, desarruma as toalhas, os forros e as cortinas?
Não é para esquecer. Celebrar o grito de repugnância, com a força do amor ou da dor, para não deixar esquecer que a morte fere a vida!
Lembrar que todos os responsáveis pela defesa da vida são legitimamente culpados quando por ações erradas ou inação omissa, permitem a morte.
Não posso esquecer os caminhos difíceis impostos a um menino, que tinha o olhar alegre e de repente, ficou triste…
Lembro os rostos impassíveis dos algozes institucionais e releio as linhas da injustiça, feita banalidade.
Como uma mãe pode esquecer, quando está ligada à saudade?
Esquecer o silêncio e a impunidade?
Lembrar a alegria vivida, transferida, à eternidade.
Não esqueço. Lembro que o tempo da luta se chama agora.