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Não acato desculpas de Lula, peço desculpas

A maturidade desfaz paixões, mas localiza razões.

É a sensação que agora tenho, de gente desapaixonada que localiza o essencial nas lutas dispersas por compreender que política não é o arranco das soluções fáceis, mas a continuidade das lutas que aguardam as viradas de ventos fortes para empurrar estruturas, e só percebe a hora chegada se nunca desistir de lutar.

Política não é apenas a concordância, pois as variáveis são feitas de erros e acertos, mas o eixo é sempre definidor. Todos caminhamos para lá. Eis o espectro humanista que sigo na mutação política movida a inexperiência no poder, caso da maioria de nós.

Política é ciência para quem estuda as lufadas da história. Quem não vira apenas personagem porque nem ganha nem perde com o que faz, e se ainda continua fazendo a razão é entranhada, não estranha.

Deste lugar de fala marco minhas escolhas e ergo escudos de análises para proteger o direito de ser quem me tornei.

Tenho uma foto com Lula que foi tirada na década de 80, em um assentamento escondido entre canaviais sangrentos no norte alagoano, eu tinha 16 anos.

Na terra de Collor meu primeiro voto, sem medo de ser feliz mesmo entre perseguições e represálias aos 17 anos, foi em Lula.

Uma vida de militância entre a sociedade mundana e religiosa, fermentou ideais humanistas. Nossos pés de chão e braços de consolar outros abraços se firmaram na referência de um presidente que conseguisse forjar as forças dos ventos para empurrar pesadas estruturas.

Lula foi esse presidente.

Na grande dor de ser gente, nas perdas tornadas história, encontramos nas brechas abertas em estruturas monárquicas seculares pelas políticas públicas implementadas pelo petista vasto subsídio para a luta contra tortura, que na prática não ecoa como causa.

Lula moveu milímetros e fez diferença na noite de quem conhece a solidão histórica da injustiça derramada em sangue.

A sensação de ser voz. De denunciar e resignificar a vida em lutas sociais e históricas, eis a identidade parida na invisibilidade de ser brasileiro.

Lula foi a voz que nos deu voz, sofrendo golpe imenso a nos tirar o sono; o fiel cantar por Lula Livre não brotou do acaso, foi nascido da poeira histórica umedecida pelo senso de justiça afetado.

Aprisionar Lula foi o golpe letal contra o melhor da nossa brasilidade.

Tê-lo como voz de liberdade nas lives de agora, consolando a luta já perdida em tantas vidas, é por certo o ressurgir da nossa guerra histórica a encarar a morte calculada pela negação da vida transportada por Jair Bolsonaro, candidato a pior presidente do país com larga chance de vitória.

Em uma entrevista Lula ressalta a chegada da peste biológica que desmonta as falas neoliberais e suas práticas de necropolítica.

O oportunismo trabalha a letra morta em desconsideração ao homem histórico, e Lula pede desculpas; nós não acatamos suas desculpas por não precisar delas.

Mas somos designados por idólatras.

Quem carrega um Lula na história de militância desde tão profundo rincão não deixa sequer ser arranhado por tal designação.

Mas qualquer nordestino que conhece um naco desta vivência relatada entende nossas considerações. E mesmo se Lula tivesse dito o que pareceu dizer, sua história inteira negaria qualquer laivo de desumanidade ou indiferença à dor do Brasil.

Lula é gente, além de político, mas é sendo político que nos mostra o quanto é gente.

A Lula eu peço desculpas pela invigilância de muitos de nós, que fisgam qualquer isca na manipulação midiática do politicamente correto.

Porque Lula é politicamente correto, e por isso mesmo jamais tripudiaria sobre a morte de seu povo irmão.

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