Mulheres alagoanas têm mais chances de infartar

Segundo o cardiologista Eugênio Leite, o motivo dos sinais atípicos – apontados em estudo publicado no Jornal da Associação Médica Americana – é a diferença neurofisiológica

Larissa Bastos/Sesau

Apesar de bem menos frequente entre as mulheres de até 55 anos, o infarto tem se tornado também uma preocupação feminina. Apenas em 2011, 407 alagoanas vieram a óbito por doenças cardiovasculares e, além do aumento da incidência, o maior problema é ainda a ausência dos sintomas típicos, como dormência e dor no peito, no pescoço e no braço esquerdo.

Segundo o cardiologista Eugênio Leite, o motivo dos sinais atípicos – apontados em estudo publicado no Jornal da Associação Médica Americana – é a diferença neurofisiológica. “Muitas vezes a mulher nem sabe que está infartando e isso é sinal da anatomia. A enervação é diferente em relação a dos homens e elas têm mais sensibilidade em alguns nervos que em outros”, explica.

Ele acrescenta que, entre os sintomas apresentados pelo sexo feminino, podem estar dor nas costas, na mandíbula e no estômago e até mesmo vômito. “Elas podem não ter uma angina clássica e isso é confundido com problemas digestivos ou ósseos”, expõe o médico, que é técnico da Superintendência de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde

O cardiologista destaca que, ao menor dos sinais, a paciente deve procurar um serviço de assistência, solicitando ao profissional a requisição de exames como ecocardiograma, eletrocardiograma e teste ergométrico. Caso seja confirmada uma obstrução sanguínea, o médico poderá fazer uma cintilografia para ver a circulação coronariana do coração e, em último caso, um cateterismo.

Fatores de risco

Eugênio Leite ressalta que, até os 55 anos, as mulheres são naturalmente protegidas das doenças cardiovasculares devido à produção de estrógeno, hormônio responsável pelo ciclo menstrual. Depois da menopausa, entretanto, os níveis hormonais diminuem e essa proteção desaparece, aumentando as chances de sofrer um infarto.

Somados a isso, aparecem também os fatores de risco. “Temos questões como estresse, tabagismo e alimentação desequilibrada e repleta de substâncias químicas, além de diabetes e hipertensão, que têm aumentado bastante entre o sexo feminino. Tudo isso faz com que as estatísticas sejam praticamente iguais entre mulheres na faixa dos 50 anos e homens”, diz.

O médico acrescenta ainda o fator hereditário, com a prevalência de casos na família – o que pode ocasionar infartos até em mulheres com menos de 40 anos, apesar de mais raros. De acordo com Eugênio Leite, porém, alguns hábitos podem melhorar a situação e ajudar a reverter os números negativos com relação às mulheres.

“O primeiro deles é saber que isso pode acontecer e ter conhecimento desses sintomas de uma angina atípica. Depois, adotar práticas como banir o consumo de gorduras, procurar diminuir o peso e praticar atividades físicas. Uma caminhada leve já pode melhorar bastante a saúde, inclusive problemas nos músculos e ossos”, ressalta ele.

Incidência

Além dos 407 óbitos de mulheres, Alagoas registrou também 603 mortes de homens devido a doenças cardiovasculares em 2011. A maior causa de óbito foi o Acidente Vascular Cerebral (AVC) – também causado pelos mesmos fatores de risco –, com 1.160 mortes no Estado. Em 2010, foram 922 infartos e 1.076 AVCs, representando 52,5% do total de mortes por doenças do aparelho circulatório.

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