BLOG

Mulher nordestina sem rima

Meu lugar de fala não foi construído com a benevolência de ninguém; sou herdeira das tristezas grandes que não deram tempo longo para o choro e o lamento, sou mulher nordestina!

Sou um pedaço da mãe preta que alimentou rebento branco pensando naquele outro que pariu e a saudade que alentava as lembranças esquecia a esperança na frente da moenda antiga. Esta mulher oculta na história do engenho desenha traços na genética do Nordeste.

O grito que ecoou quando o corpo do filho tombou também é meu!

Meus olhos não possuem cor. Meus olhos viram sangue. Meus olhos choram ontologias negadas. E o nada abandonado nos movimentos das vagas causou náuseas em mim.

Sem este ranço eu não me encontro, não canto, não encanto. Sou espinho ferido que preserva jardins. Mulher que cozinha o antídoto, que acaricia a face do marido e desvela energia na educação dos filhos, sem batom e sem brilho, carrego esta simbologia em mim.

Desta haste brota a frase que empurra os dias, as magias e as ousadias em nome do amanhã.

Nordeste é terra agreste, de gente estranhamente encantada nas linhas de longas preces, a comer e beber a obrigação. A benção da mãe sustentou seculares noites e ainda segura a investidura diuturna de várias gerações.

Esta mulher de letras, de iletradas palavras, de voz silenciada e rompido silêncio falado, sou eu, a mulher que vos fala para solidarizar com as dores e os amores das mulheres todas mães, aquelas que dia algum conseguirá mapear para estender qualquer tipo de homenagem porque estamos todas em guerra e espalhadas demais para que uma  mera ocasião nos junte.

Somente a força da vida convoca nossas lutas e reúne nossos olhos em um mesmo altar.

SOBRE O AUTOR

..