Mitos e antimitos

Para o poeta Fernando Pessoa, o mito é um nada que é tudo

Rubem Azevedo Lima-Correio Braziliense

O jornalista espanhol Juan Arias, em El País, dia 25 último, fala de Lula, como um mito, e Dilma, seu antimito. Ele não sabe que o PT de Lula e o PTB da deputada Ivete Vargas foram criações políticas do general Golbery, então ministro do presidente Figueiredo. O objetivo das invenções era limitar o horizonte político do PTB e criar um partido para neutralizar o comunismo no país. Anos depois, Golbery, o Bruxo, como o chamavam, arrependeu-se de outra invenção, sob o regime militar, admitindo ter criado um monstro, o SNI. Mas não teve tempo de arrepender-se da criação do PT lulista e do PTB de Ivete. Graças a isso, o primeiro, líder sindical conservador, chegou à presidência.

Para o poeta Fernando Pessoa, o mito é um nada que é tudo. Arias tem outra visão. “O curioso” — diz ele — “é que o Brasil, apesar do peso que arrasta, tomou o trem do progresso e caminha, com respeito internacional, num mundo convulsionado e em crise.” A seu ver, o mito Lula vendeu o Brasil ao mundo, como ninguém, no passado. Cabe agora à presidente Dilma converter, em realidade, o que Lula vendeu.

“O que Dilma pretende, com obsessão, é colocar em seu governo pessoas que acha qualificadas, sem ter excessivamente em conta os apetites às vezes espúrios dos políticos.” “Ela deve juntar dois grandes slogans que fazem parte de sua biografia de presidente, reveladores de seu desassossego com a corrupção política ou econômica, como a defesa da liberdade de expressão. Prefiro, disse ela, o ruído dos jornais ao silêncio das ditaduras.”

Neste ano de governo, para Arias, “ela foi fiel a esses princípios. Nomeou um físico para o Ministério da Ciência (Marco Antônio Raupp); uma química, Maria Graça Fuster, para presidir a Petrobras, a empresa mais emblemática do Brasil e, para a Pesca, um senador evangélico”. O governo da presidente Dilma, ao que parece a Arias, é mais decente que o de Lula, esse com compromissos políticos escusos, que são excessivos aos cofres da União. Neste ano de 2012, segundo Árias, é provável que os brasileiros cheguem a essa certeza. E isso, para mal dos males de Lula, que pensa em voltar à presidência.

.