É histórico: o Brasil trata a mesma sociedade de maneira diferente.
Não faz tanto tempo que abolimos a escravidão. E há os que creem que ela não existiu.
Na orla lagunar- área mais pobre da capital- abordados pela polícia são “vagabundos”.
E em tempos de Método Bolsonaro, a humilhação está liberada. Tanto que a PM de Alagoas aceita a transmissão de operações policiais nas redes sociais, desde que os alvos sejam gente sem eira nem beira. É o Big Brother da Ralé, nosso jeito todo especial de resolver nossas desavenças sociais.
No vídeo pendurado neste blog, o PM faz um longo discurso moralista aos “vagabundos”, todos rendidos. Mostra como “exemplo” outros que estão indo para a prisão, acusados em homicídios.
Claro que a abordagem seria diferente em outra circunstância. O militar que repassa informações privilegiadas ao deputado estadual não é vagabundo. Nem vagabundo é o deputado envolvido em pistolagem.
O Método Bolsonaro chama estes de “homens de bem”. Porque há militares que viram garçons, motoristas, abridores de portas, acendedores de cigarro diante desta “gente de bem”.
É uma mistura de hipocrisia e ódio. Ódio da Justiça, lenta, seletiva, cara; ódio dos que aboliram a pena de morte; ódio dos direitos humanos; ódio do PT.
Hipocrisia porque a metodologia, de tanto aplicada, não eliminou a criminalidade.
Nosso caminho para a tragédia social nunca esteve tão próximo. Um policial de Arapiraca disse, ao mostrar um machado, que tudo iria mudar quando janeiro chegasse.
Janeiro é a posse de Jair Bolsonaro, o presidente que promete reconhecer policiais que matam os “vagabundos”.
Desde que os “vagabundos” sejam os filhos dos outros.
A questão não é mais comportamental. É patológica- e nós sentiremos todos. Agora ou depois.