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Mercado é outra coisa

Paulo Silva Pinto- Correio Braziliense

Não é normal, em nenhum país, uma passagem aérea doméstica para um voo de duas horas custar US$ 2.100. O consumidor brasileiro, porém, não tem escolha. Se ele quiser ir de Brasília para Fortaleza em 26 de dezembro, retornando em 2 de janeiro, terá de desembolsar R$ 5.058 mais taxas. A pesquisa foi feita pelo Correio em 27 de novembro. Ou seja: quase um mês antes da viagem. Para Recife e Natal, paga-se quase a mesma coisa.

Autoridades governamentais do setor aéreo acham o preço normal, sob o argumento de que há liberdade tarifária no país, portanto o valor é resultado das forças de mercado. Quem quiser algo mais barato deve se planejar.

A culpa, portanto, é do consumidor, que deixou a compra para a última hora. Ou melhor, para um mês antes. Imagine-se o azarado que tiver de ir atrás de uma passagem em 26 de dezembro. Não necessariamente por ter decidido, de repente, ir pular ondas no fim de ano. Ninguém está livre, por exemplo, de problemas de saúde com pessoas da família. Quase todo mundo já teve que fazer uma viagem de emergência e se sentiu extorquido pela companhia aérea.

Um mercado decente não é assim. Exige administração pública competente para conceber e implementar políticas regulatórias que garantam a concorrência. Certamente há ideias variadas sobre as regras a serem estabelecidas. Uma opção altamente capitalista seria permitir a participação de empresas estrangeiras nas linhas domésticas. Para ter uma noção dos benefícios disso, basta observar os preços das passagens daqui para a Europa e os Estados Unidos, que equivalem aos valores para o Nordeste nas datas acima. Ou para a enorme diferença em relação ao trecho entre Nova York e Los Angeles no fim do ano: R$ 1.500, já incluídas taxas, para seis horas de voo em cada trecho.

A falta de infraestrutura no Brasil tampouco pode ser desculpa. Por que as empresas não usam aviões maiores? Se elas não têm capacidade para renovar a frota, uma possibilidade seria a liberação de maior número de voos fretados na alta temporada.

Não só o consumidor é prejudicado com o alto custo dos deslocamentos no Brasil. Empregos que poderiam ser criados no turismo do Nordeste também acabam tomando o rumo do Caribe.

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