Marcelo Henrique: Um Noel de Verdade

Era pra ser mais um final de dia comum, daqueles que repetidamente enfeitam cada ano de sua vida. Fechou o laptop, concluindo as petições e as agendas. Despediu-se dos colegas, com a alegria de ter um ofício e de poder ganhar o sustento com o suor de cada dia. Pegou o paletó e a chave do carro e saiu.

Desceu as escadas, ainda tendo tempo de cumprimentar algumas pessoas e o porteiro, sempre sorridente, personagem da rotina profissional. Olhou o relógio, já imaginando o que lhe aguardaria à noite, entre amores e familiares.

Foi chegando ao bonito automóvel, conquista do sucesso, merecida, com a bagagem da honestidade e do bom trato com os clientes, sempre em busca dos melhores resultados nas demandas jurídicas.

De repente, divisou um objeto no para-brisa do veículo, preso ao limpador. Era um papel. A princípio, pensou tratar-se de mais um anúncio publicitário, daqueles que comumente são afixados, para apresentar serviços, promoções ou empresas.

Mas, não era…

Tratava-se de um manuscrito. Uma pequena folha escrita à caneta que encerrava uma história triste e um apelo. A caligrafia até que era bem apresentada, mas, aos poucos, dava para ver a emoção que ela encerrava.

Era o pedido de uma mãe, em tempos de Natal, endereçado ao Velho Noel. E continha muita sinceridade. O relato daquela mulher demonstrava que ela tinha quatro filhos e o mais velho, de dez anos, gostaria de ganhar um presente: uma bicicleta. Pois os amiguinhos da rua, cada um deles, tinha a sua e o menino por vezes voltava chorando para casa, por não poder brincar com eles…

Não lhes faltava, àquele lar humilde, o pão de cada dia. Com esforço a mulher pagava suas contas e procurava dar algum conforto à prole. O desgosto do filho, a sua tristeza, dizia ela, lhe cortava o coração. E ela escreveu a cartinha, em nome do garoto, com seu petitório.

Não se sabe porque o “destino” a fez escolher aquele para-brisa. Poderia ser qualquer um, dentre muitos os carros estacionados naquele local. Talvez uma força inexplicável lhe tivesse indicado um em especial.

Nosso personagem, ao ler a carta, poderia ter feito como a grande maioria. Amassado e jogado fora em alguma lixeira. De algum modo, o singelo pedido alcançou as fímbrias do seu coração e ele decidiu ajudar.

No dia seguinte a bela bicicleta amarela estava sendo conduzida ao escritório, para a surpresa do porteiro e das demais pessoas que estavam no prédio.

Alisson e sua mãe Josiele teriam um Natal diferente. O Papai Noel, personagem fictício, do imaginário popular ou figura obrigatória de marketing dos shoppings centers e grandes lojas de nossa cidade, havia “encarnado” no nosso amigo.

A última cena era a de Alisson, sorridente, dizendo à mãe que iria “apresentar” a “magrela” aos amiguinhos do bairro. O porteiro sorriu e no seu sorriso a admiração pelo jovem executivo lhe encheu o coração de esperança em um futuro melhor.

Boas Festas!

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