Marcelo Henrique: Sem comemorar, mas a refletir…

Lágrimas. Dores no corpo. E na alma. Humilhação. Sentimento de impotência. Raiva. Decepção, em muitos casos, em relação àqueles de quem se esperava um mínimo de respeito. Justamente, em muitos casos, os que gozavam de maior intimidade ou dividiam o mesmo teto.


É 25 de novembro, e não há nada para se comemorar. Mas é a oportunidade – não só neste dia – mas em todos os demais, para refletir.

Há quase sessenta anos, esta data ficou marcada por um crime bárbaro. Na República Dominicana um pequeno país latino-americano, reinava a ditadura de Rafael Trujilo. E lá, como em quase todos os países do continente, sobretudo nas Américas do Sul e Central, há momentos em que a democracia se esvai pelo ralo, e ditaduras, não importando a ideologia que lhes esteja por detrás, impõem violência, submissão e vilipendia-se direitos e garantias fundamentais dos indivíduos e povos. Naquele dia, três mulheres que combatiam fortemente aquele regime insano e ilegal, Pátria, Minerva e Maria Teresa, “Las Mariposas”, foram violentadas, estranguladas, tiveram seus ossos quebrados e foram atiradas no fundo de um precipício.

A barbárie repercutiu muito, nacional e internacionalmente, num quadro de grande comoção. Pouco tempo depois, o ditador foi assassinado.

Quase trinta anos se passaram e, em 1999, foi instituído o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em alusão às “Mariposas”. A data, assim, fomenta as necessárias discussões político-sociais sobre a proteção dos direitos humanos, em especial considerando que a violência contra a mulher – quase sempre em situação de fragilidade física ou emocional – é uma das maiores causas de assassinatos de mulheres em todo o mundo.

Ao lado dos estupros, que são praticados por homens contra mulheres que não sejam suas esposas ou companheiras, não mantendo vínculo afetivo-emocional com os agressores, há os deploráveis “crimes de honra”, os quais geralmente principiam com (pequenas) agressões físicas e/ou morais, podem evoluir para estupros e assassinatos. Segundo dados das Nações Unidas, cerca de cinco mil mulheres perdem a vida em decorrência destes crimes, no mundo, por ano. E isto independe de qualquer nacionalidade, cultura, religião ou condição social, segundo as estatísticas da entidade internacional.

O indivíduo, consciente de seu papel neste planeta, sabe que precisa se indispor e lutar, sempre, contra a violência, o desrespeito, a barbárie, a selvageria, atuando localmente como um ser desperto para a Justiça Social e partícipe da construção de realidades melhores nos mais diversos lugares do mundo. Não pode, assim, ficar omisso em relação a iniciativas que busquem conferir liberdade, segurança e legitimidade aos indivíduos, para que estes possam desempenhar seus papéis sociais e culturais.

Em todos os tempos da trajetória humana na Terra, vemos como marca indelével a participação obrigatória dos seres “despertos”, na luta por direitos fundamentais e na necessidade de reformar leis e organizações sociais.

Assim, a valorosa causa deste dia 25 de novembro não é somente a da mulher, que foi agredida ou vilipendiada, que foi mutilada ou estuprada, que foi covardemente morta, mas de todas as mulheres que são espiritualmente iguais aos homens e devem sê-lo, socialmente, sempre. A causa é, então, humanitária, como humanitária ou humanista, e requer o engajamento nas grandes causas e propostas sociais da vida cotidiana, na vida de relações que temos no bairro onde moramos e trabalhamos, na cidade, no país e, por extensão, no planeta.

Como a proposta deste artigo é o despertamento pessoal de todos nós, devemos honestamente nos questionarmos: – Qual é a minha contribuição para um mundo menos violento? De que maneira observo e posso combater ou evitar as diferentes formas de violência que existem contra o meu semelhante, em especial as mulheres? O que posso fazer no meu entorno para conscientizar as pessoas para a luta pacífica contra a violência e para minimizar o espectro de sua incidência, nas relações próximas de mim?

Quando iremos começar?

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