Marcelo Henrique: Honestidade seria o primeiro requisito!

 

 

Passada mais uma eleição, desta vez municipal, o Brasil já superou a ressaca de mais um pleito. Preliminarmente, é preciso dizer que um país com tantas dificuldades econômico-financeiras como o nosso é perdulário ao realizar, de dois em dois anos, um certame de votos. Uma eleição é caríssima, nos aspectos público e privado, e envolve toda uma logística específica, que também exige gastos governamentais vultosos. Não há nenhuma justificativa plausível para manter-se a “ida às urnas”, com este espaçamento de tempo. Deveríamos concentrar todos os pleitos, municipal, estadual e nacional num só ano e, de quatro em quatro anos, sermos chamados à escolha de representantes para os Executivos e os Legislativos.

Estabelecido isto, vamos ao tema principal deste ensaio: a honestidade.

O que é a honestidade? Consultando os léxicos, encontramos: “caráter ou qualidade daquele que é honesto; atributo pessoal do indivíduo que apresenta honradez e probidade, de acordo com dados preceitos morais considerados como socialmente válidos”.

Pois bem… Vamos aos fatos!

Leio, estupefato, as notícias veiculadas por diversas mídias e tomo a liberdade de trazer apenas uma das manchetes (foi assim que aprendi no Curso de Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Federal de Santa Catarina) ou “chamadas”, como diz a “moçada” hoje em dia: “Mais de 10 mil candidatos receberam auxílio emergencial ilegalmente”.

Sim, é o que você leu! Dez mil candidatos a cargos eletivos, de Norte a Sul deste país, se credenciaram e receberam o pagamento do auxílio emergencial da pandemia! Mais precisamente, dez mil, setecentos e vinte e quatro candidatos (a prefeito, vice-prefeito ou vereador)!

Quem constatou foi um procedimento de auditoria do Tribunal de Contas da União, ente governamental especializado na fiscalização de todas as ações do governo federal brasileiro, que possui uma sede em Brasília (DF) e secretarias de controle externo em todas as vinte e seis capitais brasileiras.

A auditagem pública – que merece elogios pela eficácia e eficiência, diga-se – ainda comprovou que, dos beneficiários, muitos possuíam, como patrimônio pessoal, conforme declaração à Receita Federal, acima de R$ 300 mil. E em 1.320 casos (quase 13% dos que se valeram da autodeclaração de miséria e necessidade), o conjunto de bens de sua propriedade superar$ 1 milhão.

Que escárnio! Que pilantragem! Que velhacaria! Que desrespeito, seja aos demais cidadãos brasileiros, muitos dos quais em situação real de precariedade financeira, seja em relação ao país como um todo, considerando, inclusive, o adágio jurídico (que repeti e repito em minhas classes de Direito) de que “a minoria é que é delinquente e a maioria são cidadãos de bem”.

O auxílio emergencial, assim, para eles, transformou-se numa espécie de Bolsa-Jeitinho. E a lembrança da propaganda de um cigarro, na década de 1980, fica mais viva em nossa memória: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”. Este bordão foi nacionalmente conhecido como a “Lei de Gerson” – porque quem “estrelava” a propaganda era um ex-jogador de futebol (hoje comentarista esportivo) campeão do mundo com a seleção brasileira em 1970 – consagrando, assim, o “jeitinho” brasileiro de fazer o errado parecer certo…

Caso você não acredite nestas informações, recomendamos a consulta ao site do Tribunal de Contas da União – TCU (https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-disponibiliza-lista-de-candidatos-as-eleicoes-de-2020-que-receberam-auxilio-emergencial.htm) – para “ver com seus próprios olhos” a extensão da senvergonhice tupiniquim.

Assim sendo, resta saber se, perto de você, que nos lê, existe algum destes “espertos” que se elegeu, em 2020, para mandato no Executivo ou no Legislativo.

Projecionalmente, já poderemos esperar como deverá ser a sua “conduta” no desempenho da função pública.


Aquele que falseia condição pessoal, que rouba um pirulito de um infante – e, neste caso, o eleitor representa as crianças “inocentes” que não sabem o que os “adultos” (políticos, candidatos) fazem – pode ser capaz de realizar muitas outras coisas mais preocupantes.

Será que um dia teremos, de fato, candidatos e políticos com HONESTIDADE?

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