Marcelo Henrique: Entre dúvidas e certezas

O ser humano vive em constante busca. Questiona-se e também aos outros e ao mundo ao seu derredor. Das perguntas, ao invés de respostas definitivas, surgem outras perguntas, razão pela qual pode-se dizer que o ser humano é um “eterno” insatisfeito em relação às certezas.

Tempos como os atuais, ainda, são mais pródigos e oportunos para a autorreflexão e as necessárias mudanças. A grave e incomensurável turbulência de hoje – porquanto também inédita para a maioria dos membros das distintas gerações que convivem no planeta (ainda que alguns, mais velhos, possam recordar da “gripe espanhola”, no século passado, como um evento similar, embora com menor amplitude que o Covid19) – geraram uma imensidão de informações e provocaram a disseminação de uma nova onda de fakenews e, também, de material que mais simboliza o desejo (natural) de vitória sobre a pandemia, do que material com fidedignidade científica.

O exagero, a euforia, as utopias e o desconhecimento, portanto, provocam nas pessoas e coletividades reações as mais diversas possíveis. Difícil é ficar “imune” ou “isento” em relação a tudo o que circula nas redes sociais. Isto sem falar, também, na má-fé, decorrente do prazer que se sente em se difundir ideias falsas e teorias da conspiração, para provocar reações, as mais diversas, nas pessoas em geral.

Eis, aí, o principal “defeito” das citadas “redes sociais” considerando que, ao lado da velocidade de difusão da informação e da amplitude praticamente sem barreiras do alcance de tais meios, já que estamos diante do “consumo” instantâneo das informações, pois a imensa maioria das pessoas não faz a checagem dos meios midiáticos nem confronta os dados recebidos com outras fontes.

Antes da “era da velocidade” internética ou cibernética, o fenômeno em tela já era conhecido, sob a forma de “boatos”. E, nos tempos anteriores ao nosso, a dificuldade maior residia justamente no acesso às fontes originárias, circunstância, hoje, vencida, porquanto tudo esteja a um clique.

Especialistas afirmam que este fenômeno, no âmbito da comunicação social, é previsível e recorrente, o que não deva ser entendido como natural, aceitável ou menos condenável. Longe disso.

Há pessoas pagas para disseminar informações propositalmente, com predefinidos objetivos e intenções manipuladoras, assim como existe um “exército” de “inocentes” disposto a “passar para a frente” as “novidades”.

Se a busca, no momento, é, em termos de saúde pública, de uma vacina que seja ampla e eficaz em relação ao vírus – e às suas muitas mutações – em paralelo precisamos investir em outro imunizante efetivo e eficaz contra a desinformação, em duas frentes: uma, profissional, da parte dos jornalistas, para a resistência ao bombardeio de informações falsas e manipuladas, fortalecendo o compromisso com a verdade (bússola da comunicação social), para separar o que é fato do que é mera versão. E, da parte do cidadão comum, o esforço para buscar “uma segunda (ou terceira, ou mais) opinião sobre o que se recebe, enquanto produto de mídia, diariamente.

Passar ao largo das disputas ideológicas, sabe-se, não é tarefa fácil. Afinal, nenhum de nós é, de todo, isento ou independente. Desde a infância, em razão de ensinos, leituras, ações e envolvimentos, nos distintos cenários, nossa personalidade vai sendo moldada e, portanto, os fundamentos de nossas ideias e crenças – não necessariamente religiosas, é claro – vão se consolidando em nós, formando o indivíduo espiritual que somos. A par destes elementos não serem definitivos, prontos e acabados, há os que permitem que a mutação progressiva das certezas íntimas decorra do convívio com outras pessoas e do acesso a outras fontes de conhecimento – cada vez mais acessíveis pelos recursos atuais de tecnologia.

Neste cenário, cada indivíduo é convidado a utilizar os recursos de que dispõe: o bom senso e a razão. Afinal, são estes dois elementos, além dos ideais superiores de fraternidade entre os homens, os traços que distinguem a civilização da barbárie.

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