Maquiador diz que matou mãe e vizinhas “por ordem de Deus”

Correio da Bahia

O maquiador de 30 anos suspeito de ter matado a mãe e três vizinhas, incluindo uma criança, este final de semana em Londrina (PR), foi ouvido novamente pela polícia e disse não se arrepender dos crimes. Segundo o delegado William Douglas Soares, o maquiador disse que “foi impulsionado por uma ordem de Deus”.

Segundo a Polícia Civil, Diego Ramos Quirino é usuário de drogas e havia sido internado no mesmo dia com um possível surto psicótico. Ele estava nu quando cometeu os crimes e foi contido depois das mortes por moradores. As mortes foram na noite de sábado (3).

De acordo com o delegado, o maquiador disse que recebeu estas “ordens” no começo da tarde, quando ajudava na mudança de um amigo. “Lá, segundo ele, passou a receber ordens de Deus, desde para que agredisse seus amigos, até a ordem que segundo ele a mais difícil delas, para que matasse sua mãe e sua companheira, que conseguiu fugir”, relata o delegado.

Depois, Quirino disse que ““foi tomado por um sentimento de justiça, para que eliminasse todos esses espíritos da maldade que dominavam as pessoas”, o que levou a atacar a casa da vizinha. “Ele contou que viu, em todas as pessoas que ocupavam aquela casa, espíritos da maldade, e acabou por matá-las”, explicou ao G1 o delegado.

O suspeito não fala em arrependimento pelas mortes. “Ele acredita, palavras dele, que as pessoas que lá estavam não eram as que ele conhecia, mas espíritos da maldade”. Apesar das suspeitas de que Quirino tenha algum problema psíquico, isso só deve ser concluído com uma avaliação médica.

Antes dos crimes, o rapaz chegou a ser atendido em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) – o amigo percebeu sinais de agressividade e pediu ajuda médica. Ele foi atendido e liberado. A médica que o atendeu prestou depoimento e disse que tudo aconteceu dentro da normalidade. “Ela falou que não observou nenhum sinal de agressividade, ansiedade, tremor, nada nesse sentido. Ao ser questionado, alegava que estava bem e que queria ir para casa. Isso causou estranheza à médica pela razão de que ele foi encaminhado ao hospital”, diz o delegado.

A médica recomendou que a mãe de Quirino procurasse auxílio psíquiátrico para ele, por conta da dependência química. Ele foi liberado em seguida.

A namorada dele também prestou depoimento e disse que o que motivou o crime foi o comentário, dela e da mãe de Quirino, de que o comportamento dele “não era de Deus”. Ele não gostou do que ouviu, se ofendeu e deu início às agressões.

CrimesUma das vítimas foi Vilma Santos de Oliveira, 63, conhecida como Yá Mukumby, uma das mães de santo do candomblé mais conhecidas no Paraná e referência no movimento negro no Estado.

A série de homicídios, sempre segundo a polícia, começou por volta das 22h, quando Quirino tentou agredir sua companheira, Patrícia Amorim Dias, 19, dentro da casa da mãe dele, no Jardim Champagnat, bairro de classe média alta. Ao perceber que o filho tentava golpear a nora com uma faca, a mãe de Quirino, Ariadne Benck dos Anjos, 48, tentou contê-lo e foi ferida.

Patrícia conseguiu escapar. Por acreditar que a mulher estivesse escondida na casa de Yá Mukumby, que era vizinha de sua mãe, Quirino pulou o muro que divide os imóveis e matou a mãe de santo. Ainda dentro da casa de Yá Mukumby, Quirino esfaqueou Alial de Oliveira dos Santos, 86, mãe da mãe de santo, e Olivia Oliveira, 8, neta.

A polícia investiga se o ataque de Quirino às vizinhas teria ocorrido após Yá Mukumby ameaçar chamar a polícia para prendê-lo. A idosa Alial Santos foi morta no quintal da casa da filha, quando tentava fugir depois de ver sua bisneta e Yá Mukumby serem mortas.

Em 2010, a história de vida da mãe de santo foi contada no livro “Yá Mukumby, A Vida de Vilma Santos de Oliveira”, que saiu pela coleção “Presença Negra em Londrina”, da editora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

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