BLOG

Maceió terá ‘festa de tiros’ no dia do capoeirista

Maceió vai comemorar este ano, em 3 de agosto, o dia municipal do CAC- caçador, atirador e colecionar de armas, aprovado pela Câmara de Vereadores.

A justificativa é que o chamado tiro esportivo existe desde a 1a edição dos jogos olímpicos, em 1896.

Na prática, a causa é menos nobre. Os CACs viraram símbolos da política pública do presidente Jair Bolsonaro (PL) que afrouxou o acesso a armas. Os números comprovam: ano passado, Alagoas foi o décimo estado que mais registrou armas. Em 2019 eram 1.114; um ano depois, 8.815, crescimento de 691%, mais que a média nacional neste mesmo período, 97,1%.

O dia dos CACs existe em outros lugares do país mas é “comemorado” em 23 de outubro.

Por que Maceió a data será diferente?

3 de agosto é o dia nacional do capoeirista. Uma lei estadual, aprovada em 2014, reforça a homenagem a esta técnica de defesa proibida por décadas no Brasil e classificada como crime.

A capoeira era usada pelos negros escravizados contra os capitães do mato e suas espingardas, caçando à bala os fujões das senzalas.

Hoje, a capoeira é patrimônio cultural imaterial brasileiro, praticada em 150 países e somente no Brasil tem 5 milhões de adeptos.

Alagoas é berço do Quilombo dos Palmares, o maior das Américas. Erguido na Serra da Barriga, é tratado como símbolo mundial na luta contra a escravização de negros, capturados em países africanos para trabalhos forçados e sob tortura nas lavouras e minas de ouro e diamantes no país.

A capoeira surgiu possivelmente no topo da serra.

O vereador Leonardo Dias é o autor do dia dos CACs em Maceió. Ele quer que no dia 3 de agosto exista a “realização de eventos públicos municipais em todos os âmbitos, para a divulgação e esclarecimento das atividades desempenhadas pelos CAC’s”.

Dias se envolveu em polêmica com o movimento negro ano passado na capital. Era o principal defensor da mudança do nome da praça Dandara dos Palmares para Nossa Senhora da Rosa Mística, no bairro de Jatiúca.

Segundo ele, era preciso “compreender a história do local”. A tradição, disse o vereador, indicava que a praça era conhecida pelo nome da santa e não de Dandara, mulher de Zumbi e símbolo de resistência contra a destruição do Quilombo dos Palmares.

O Movimento Negro reagiu “contra o apagamento da nossa história, no combate ao racismo, à intolerância e demais preconceitos correlatos, estamos mobilizados para impedir esta ação e quaisquer outras que queiram deslegitimar nossa existência”.

O passado volta a assombrar o presente.

SOBRE O AUTOR

..