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Maceió esquecida entre luzes e festas

Já parou e pensou sobre algo que você realiza no âmbito da sua própria vida, organizando etapas e definindo objetivos? A priori, este comportamento é resultado de um propósito fixado, uma finalidade desejada, garantindo o mais possível as possibilidades de êxito.

Se na vida particular é imprescindível planejar, ligar as ações às teorias nas quais acreditamos porque se vinculam a possíveis resultados, imaginemos então as ações de caráter macro, impulsionadas pelo poder público para a vida da cidade. Todas elas são vinculadas a algum tipo de propósito, mas nem sempre estes correspondem ao benefício público, e o alvo é desviado para o personalismo político, a valorização de áreas fixas da cidade com bairros privilegiados, que por sua vez, estão vinculados aos interesses imobiliários, trade turístico e manipulação comercial de modo geral.

O mundo capitalista todos os dias reafirma que precisa de liberdade de ação para aumentar as suas margens de lucro  (vale lembrar que capitalistas que são apenas aqueles que detém os modos de produção e a multiplicação de valores explorando o trabalho de outrem) mas aqui estamos refletindo sobre o uso do bem público no atendimento de interesses externos, ligados ao mercado, deixando os beneficiários legítimos de políticas voltadas à cidade, em profundo desamparo.

Agora olhamos para Maceió e sua vocação ao empobrecimento da maioria dos bairros.

Não encontramos na política local vozes que ecoem com precisão o desabamento da moradia digna na capital resumida a uma orla marítima com partes supervalorizadas. Na verdade, o que ocorre, é uma mobilização geral de quem ocupa espaços de poder para garantir seu próprio habitat distante da pobreza, dos problemas causados pela mineradora Braskem, da ausência de infraestrutura que penaliza com alagamentos áreas extensamente habitadas, com apenas alguns minutos de chuva.

Discutir Maceió não está na ordem do dia. Porque se tornou clichê exibir fotos de alguns lugares, onde a ação do poder público está exposta.

Uma nova política de encantamento está colorindo algumas praças da cidade, mantendo uma ilusão de eterno clima natalino, em uma estética confusa que mistura elementos aleatórios, para convencer o povo de que ali há beleza.

As ruas esburacadas, o abandono do centro da cidade e o tabu “expulsão de moradores pela mineradora” são somados a fatores como péssima ação de limpeza nos bairros da parte alta  e tudo isso vira rótulo de insignificância, quando a prefeitura se empenha em maximizar a importância de alguns territórios investindo recursos na construção de objetos gigantescos, como representação do tamanho do ego e da alienação da classe política local, condutora de eleitores “água com açúcar”, que não entabulam críticas válidas e aceitam qualquer luz colorida como grandes eventos salvadores da cidade.

Toda pauperização aguça o convívio com a violência localizada, pois ações políticas de exclusão coletiva dos benefícios urbanos já é por si um modelo violento, incapaz de gerar cidadania, pertença e elevação cultural de uma cidade.

Se Maceió é nossa, é nosso dever pensar seu presente e seu futuro.

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