Maceió é distopia, pois afunda

Maceió é distopia. Essa não é apenas uma frase incomum nos textos, nos posts, nos comentários e peças publicitárias. É o retrato esquecido de um cotidiano massacrante de oportunidades raras, vazias e disformes.

Maceió é distopia, mas é ainda o elo que configura Alagoas na terra de recursos naturais e humanos a serem sugados para a prosperidade e perpetuação de uma hereditariedade política anacrônica.

Parece, pois, que as areias do tempo ainda não esfacelaram o rigor do poder do passado e que aparece no presente sem nem se preocupar em mascarar a desfaçatez delirante da hierarquia, do gozo senhorial.

Sem os bailes e as colunas sociais do passado, o Instagram viabiliza a aventura semiótica da realeza distópica, com súditos às margens de um universo fantástico criado apenas para o deleite dos seguidores.

Aqui é onde vivem os assíduos admiradores e o lar dos vínculos que arregimentam a corte: os que conseguem algum lugar ao sol a partir da vassalagem tem lugar de destaque a baixo do casal real, impecável (e cafona).

O resto é resto. É número. O povo é a massa onde as mãos pestilentas da soberania real faz parecer ruidoso o sufoco diário dos de baixo.

Aos de cima os palácios, as condecorações amistosas dos poderes, dos que se dizem justos.

Maceió não é sol e mar, isso garantem os que do sol não tiram nada a não ser queimaduras e do mar deixaram de ganhar as benesses da mãe d’água pois foram expulsos.

Maceió é distopia. É no transporte público onde transportam gente pelas avenidas onde se firmam os lugares de quem é quem, do prestígio ou do desprestígio, da alagoanidade fora das manifestações de vitória do setor de turismo.

Maceió é distopia, pois afunda, Maceió é distopia pois não se vê desenvolvimento e futuro além de eventos pomposos e sem pertença.

Em Maceió o pão e o circo já não saciam, a terra e a casa já não estão mais disponíveis, o centro da cidade já não é tão pulsante, a cultura local resiste ao apagar do brilho. Maceió é distopia, disso não há dúvidas.

Maceió é uma aventura lucrativa dos gestores que não gestam nada além do parecer imoral sobre bons e não bons da vida social.

Maceió é distopia, mas ainda é a amálgama da província das Alagoas que descansa sobre a alma pulcra dos nossos avós. A diferença é que as bênçãos, talvez não sejam de amor e de paz.

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