‘Loucos Por Elas’ reafirma fim da supremacia masculina

Mauro Trindade-TV Press

Já é clichê. O cinema – primeiro ¿ e depois a televisão há décadas têm rastreado o crepúsculo do macho e o alvorecer Mulheres independentes e solteiras são cada vez comum na teledramaturgia. Foto: Rede Globo/Divulgaçãofeminino. Louco por Elas, seriado que a TV Globo há duas semanas no ar, é apenas mais uma cereja no bolo. Grande parte de tudo o que acontece na TV passa pelo tema. Das mulheres “sem marido” deTapas & Beijos à garota com dois amantes de Aline.

Na última novela das 21h, a pilosa portuguesa Griselda criou seus filhos sem homem do lado, enquanto conquistava galãs do porte de Dalton Vigh despida de salto plataforma, maquiagem e decote até o umbigo. Muita gente pensou que Fina Estampa versava sobre o dilema entre aparência ou essência. Enquanto isso, Aguinaldo Silva lançava uma pá de cal sobre a falsa elegância das mulheres-peruas. Televisão sempre é imagem. O visual mudou. E, com ele, muito mais.

Até Deborah Secco, outro dia mesmo de microssaia e cabelão esticado no filme Bruna Surfistinha e como a periguete Natalie Lamour de Insensato Coração, cortou os cabelos, agora pintados de negro, e tornou-se uma estressada escritora em Louco por Elas. Mesmo que ainda arrie os quatro pneus pelo ex-marido Leo, de Eduardo Moscovis, esbanjando charme no papel. As mulheres estão em toda a parte.

Claro que há uma contracorrente que fala em volta ao lar, em uma vida menos paranoica longe do competitivo mundo do trabalho. E na tranquilidade ¿ não exatamente felicidade ¿ de ter marido, tese defendida pela escritora argentina Viviana Gómez Thorpe em Não Sou Feliz, Mas Tenho Marido, que ganhou versão teatral de sucesso, estrelada no Brasil por Zezé Polessa. Mas, a despeito de quaisquer problemas de adaptação, não há muito o que fazer. Desde a Segunda Guerra Mundial, as mulheres ocupam cada vez mais cargos em todos os campos da atividade humana.

No Brasil, elas estudam mais, são mais aplicadas e, de maneira geral, não estão dispostas a trocar a liberdade por um ogro para chamar de seu. Mesmo na terceira idade as mulheres dominam, já que os homens costumam morrer mais cedo, tema ainda pouco explorado pela dramaturgia. Caso de Gloria Meneses, no papel da louquinha Violeta, uma octogenária em plena puberdade em Louco por Elas.

É possível que, daqui a alguns anos, os últimos machistas sejam apresentados na TV de forma tão histriônica quanto foram e ainda são exibidos os homossexuais. Até lá, personagens como o Leo vão ser um exemplo ¿ e uma estratégia ¿ de como sobreviver no mundo feminino. E, claro, ser Du Moscovis ajuda bastante.

.