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Leitos SUS e o ódio histórico ao pobre revelado pelo coronavírus

A família do primeiro paciente que morreu diagnosticado com coronavirus em Alagoas resume o que já se sabe no Brasil: “Morreu porque era pobre”.

A declaração desta família vai além dos prontuários medicos. Além dos documentos oficiais, além das declarações de governantes. Vai além da dor da própria família, mais uma das tantas enlutadas pelas injustiças de um país rico porém pobre nas representações político-eleitorais.

O SUS foi uma ideia construída por profissionais da saúde “comunistas”. É uma experiência única no mundo, num território quase continental.

Mas, além dos “de cima”, existe ódio e desvalorização em muitos profissionais na ponta do sistema: médicos, enfermeiros, técnicos.

Um ódio histórico de quem olha para a saúde como algo que não é feito para pobre, para gente comum. Porque é populacho.

Status, riqueza, poder, prestígio também rondam os sistema de saúde. Uma clínica de luxo também tem o bequinho estreito, quente e fedido para os dependentes do SUS.

Porque não basta um sistema de saúde ser para pobres. Ele tem de ter o cheiro do sovaco do pobre, do sabonete vagabundo e baratinho feito para pobre, comprado no mercadinho da esquina. Tem de ter um ethos codificado para a despossessão psicológica.

A morte do primeiro paciente pobre pelo coronavirus em um leito do SUS em Alagoas deveria nos inquietar. O virus, afinal, não escolhe a cor do sangue para correr nas veias. Ele segue seu caminho natural, devorando corpos. A decisão entre viver ou morrer, porém, é definida pelos sistemas. Em resumo: uma escolha de classe.

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