Repórter Nordeste

‘Lado a Lado’: Muito prestígio, pouca audiência

Patrícia Villalba- Revista Veja

Pouco antes de Lado a Lado (Globo, 18h20) estrear, em  setembro, Patrícia Pillar disse que a novela abordaria um momento histórico que explica o Brasil atual. Hoje, dia em que a novela termina, pode-se dizer que a atriz foi certeira na definição e que, mais do que isso, uma das grandes virtudes da trama foi justamente como os autores de João Ximenes Braga e Cláudia Lage estabeleceram a ponte entre o período de transição da monarquia para a República e esse nosso presente apocalíptico.

Foi preciso uma dose de didatismo, é verdade, recurso imprescindível a uma obra que, por estar na TV aberta e ter um alto investimento na produção, deve falar a um público enorme. Mas o tom professoral, dirigido aos que não têm o repertório necessário para entender certos contextos, talvez tenha sido o que afugentou parte da audiência que não respondeu tanto quanto a novela merecia.

Injustiça como a que ocorreu com Força de um desejo, trama das 18h escrita por Gilberto Braga e Alcides Nogueira em 1999 e que, apesar do primor da produção, da inquietação da trama e da qualidade do texto, não alcançou as metas estabelecidas para o horário. Lado a Lado, curiosamente supervisionada pelo mesmo Gilberto – “Confio nessa novela, mas não confio no público”, disse ele lá no começo –, passa para a posteridade da mesma forma: uma novela de muito prestígio, vista todos os dias por um público fiel e atento, mas com baixo Ibope. A média total deve ficar em torno dos 18 pontos, a menor já registrada na faixa e que nem mesmo a reta final conseguiu elevar.

Nestes tempos em que só brigas entre mulheres parecem ser capazes de chamar a atenção a ponto de produzir um recorde de audiência, como vem acontecendo comSalve Jorge (Globo, 21h30), quem se incomodou ao perceber um tom professoral na trama das 18h perdeu. Não é sempre que se tem uma aula desse tipo na TV, quando a história se materializa hora nas sutilezas, hora no vigor da interpretação de atrizes como Patrícia Pillar (Constância), Marjorie Estiano (Laura), Camila Pitanga (Isabel) e Zezeh Barbosa (Tia Jurema), quatro personagens que sintetizam a mulher brasileira do século XX de forma comovente, entre ricas decadentes, pobres esperançosas, descasadas marginalizadas, contestadoras incorrigíveis e religiosas corajosas. Chega a ser simbólico que uma novela tão seriamente feminina – e não “mulherzinha” – termine neste 8 de março.

Por tudo isso, o ganho institucional para a emissora é com certeza mais valioso do que aquele que vem da medição imediata da audiência.E a história da TV agradece.

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