Judson Cabral: R$ 2,3 bilhões em empréstimos do Governo viraram estradas; delegacias e escolas agonizam

O deputado Judson Cabral (PT) é o único na Assembleia Legislativa a cobrar (ou falar) dos empréstimos milionários do Governo Teotonio Vilela Filho (PSDB). Pelos cálculos da oposição, são R$ 2,3 bilhões em seis anos. Nesta entrevista, o parlamentar diz que estes empréstimos viraram estradas, defende as Parcerias Público-Privadas (mas não em Alagoas) e fala do clima da Casa de Tavares Bastos: “O clima não é tão tenso como antigamente”.

O Governo tomou empréstimos que somam R$ 2,3 bilhões nos últimos seis anos. Esse dinheiro ajudou a recuperar em quê a máquina pública alagoana?

Não posso negar que a gestão de Teotonio Vilela Filho (PSDB) buscou-se fazer ajuste fiscal. Mas, ao mesmo tempo, o Governo carregou o Estado em empréstimos. Ajustou a máquina para seu interesse: buscar empréstimos, que coincidentemente são tomados em períodos eleitorais.

O sr. quer dizer o quê com isso?

Lógico: é uma visão inteligente, de um gestor em seu segundo mandato. Terá recursos extras para investimentos, fora as receitas correntes. Todos os acessos aos municípios foram pavimentados. Graciosamente. Digo isso porque existiam outras prioridades.

Algumas destas cidades têm prefeitos com aliança eleitoral com o Palácio República dos Palmares?

Se não tinha, criaram. Não só o município, mas a população. Qual morador não se sente feliz em ver o acesso pavimentado em sua cidade? O custo disso é o endividamento. Claro, os acessos são importantes. Mas, são prioridade? Quando se pega a situação da saúde e da educação? E as delegacias que agonizam nestes municípios? Essas são as questões.

Alguns destes empréstimos, como especificado nos decretos, deveriam ser empregados nas delegacias aos pedaços ou escolas caindo na cabeça dos alunos. É possível dizer que esse dinheiro não chega a estes lugares?

A princípio, esse dinheiro é para obras estruturantes, para o desenvolvimento sócio-econômico. Na realidade, não temos essa prestação de contas. Por isso, alerto os parlamentares a cobrar essa conta do investimento. Se eu pego dinheiro novo, o Estado fica com facilidade de resolver outras questões. Por isso, o que é mais barato? Capear o acesso a uma cidade, com asfalto, que não é barato, ou ajudar uma escola ou reestruturar a rede de segurança? Essas prioridades precisam ser debatidas.

Qual a vantagem destes empréstimos?

Juros baixos e longo prazo de pagamento. Há uma cláusula: se não for pago em 60 dias, autoriza a União a reter as receitas dos impostos, das transferências, a cota do ICMS, cota do IPI, Imposto de Renda, o imposto de transmissão entre vivos. Ao lado disso, temos um conjunto de servidores públicos envelhecendo. E vão continuar à míngua. Não temos mais engenheiros para tocar a quantidade de obras que o governador quer. Não temos mais médicos. Eles estão envelhecendo. A grande maioria está no final da carreira, com salários aviltantes, indignos. E não se vislumbra concurso, pagando os salários de hoje.

O Governo tucano, ao falar de Parcerias Público-Privadas (PPPs), cita a presidente Dilma Rousseff e tece as vantagens dessa terceirização dos serviços. O que acha disso?

Alagoas é um lugar com exclusão muito grande. A presença do poder público é necessária para a construção deste tecido social. Na Saúde, quando se tem uma rede hospitalar preparada, você pode colocar PPPs em algumas atividades. Mas, aqui, com pessoas morrendo em pronto-socorro de bairro? Isso demonstra a incapacidade, insensibilidade e descaso com gestão da área social.

Onde o plano Brasil Mais Seguro não funciona em Alagoas?

O protótipo deste plano é direcionado a Maceió e Arapiraca. Tem tido resultados, o balanço é positivo, mas não na dimensão que se coloca. Algumas quadrilhas têm sido desbaratadas…

… com bandidos pés de chinelo, pessoas sem histórico em grandes crimes de Alagoas…

Não, não, tem havido a prisão de algumas quadrilhas de porte, mas não é o suficiente para entendermos até que ponto existe humilhação ao poder público de Alagoas- invadindo unidades policiais, delegacias. O que queremos ver é o investimento do Estado. Criamos uma comissão na Assembleia para acompanhar isso. Os deputados vão poder acessar aos bancos de dados e em caso de distorções, propomos investigações no parlamento.

Essa imagem de uma Assembleia Legislativa como local de crimes e criminosos persiste?

Da Operação Taturana até hoje, acredito que a Assembleia tem avançado. O clima não é tão tenso como antigamente.

Isso porque a gestão é do presidente Fernando Toledo (PSDB)?

Não. A própria operação cerceou ou desestimulou os que entendiam que o uso da força ou da violência. Isso foi desmistificado. Não tivemos mais envolvimento de parlamentares em violência. De qualquer forma, não posso entrar em detalhes, por causa das investigações. Elas têm de chegar ao final.

Governo e Assembleia brigam pelo fim do trem da alegria na Casa de Tavares Bastos. Como avalia isso?

Os expedientes que vêm ao plenário mostram que houve um freio disso. Mas, falta transparência. E ela tem de existir nas despesas do duodécimo. Isso não evoluiu. A sociedade precisa cobrar. Cobrou na Operação Taturana. Isso parou.

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