Jornal do Commercio: Em Alagoas, as aparências não enganam

Antes, o dever de compreender a realidade local em sua inteireza, parte que era aquele território de toda uma área determinada pelo PCdoB sobre a qual, como dirigente regional, tinha responsabilidade

Luciano Siqueira-Jornal do Commercio


Do vizinho estado das Alagoas já tive visões diversas – do início dos anos 70 do século passado, quando lá vivi em Maceió e em Santana do Ipanema, na condição de vendedor ambulante e militante clandestino, até sermos presos, Luci e eu, em 1974, aos anos recentes, de passagem, usufruindo da beleza do seu litoral, em férias.

Antes, o dever de compreender a realidade local em sua inteireza, parte que era aquele território de toda uma área determinada pelo PCdoB sobre a qual, como dirigente regional, tinha responsabilidade.

Hoje, muito de relance, superficialmente, pois ainda que permaneça dirigente do Partido, outra é a distribuição geográfica de responsabilidades.

Pois bem. Ao olhar assim superficial, chama a atenção de quem percorre as cidades praianas, exceto Maceió, de orla exuberante e pungente atividade turística, os sinais evidentes de pobreza e de desigualdade social.

De atraso, inclusive político e cultural.

As aparências são de que o estado permanece em semi-estagnação, convivendo com bolsões de fausto inseridos num mar de pobreza.

Mas, nesse caso, as aparências não enganam, espelham a dura realidade como ela é.

É o que revela reportagem do Valor Econômico, intitulada “Estagnada, Alagoas perde o boom nordestino”.

A razão disso, segundo a reportagem, está na dependência da economia local em relação ao setor sucroalcooleiro, ao que se ajunta a carência de infraestrutura, a pequenez do mercado consumidor e a anemia do poder público incapaz de oferecer contrapartidas à tomada de recursos federais.

Ao contrário de Pernambuco – em primeiro lugar no pódio regional -, da Bahia e do Ceará, a capacidade de atração de novos investimentos que diversifiquem a economia alagoana e ampliem as oportunidades de trabalho é perto de zero.

Assim, nos últimos anos – assinala a reportagem -, o Produto Interno Bruto (PIB) de Alagoas avançou abaixo da média do Nordeste, ainda assim puxado pelo crescimento do consumo, na esteira da expansão do crédito e do Bolsa Família, em um modelo conhecido por “renda sem produção”.

E, conforme dados do Banco Central, Alagoas é o estado segundo colocado no ranking regional do crédito ofertado a pessoas físicas e o último no crédito para empresas.

Em consequência, em cinco anos, Alagoas criou pouco mais de 48 mil empregos, o pior desempenho do Nordeste.

Teoricamente essa realidade se compreende pela ação de uma lei objetiva do sistema capitalista, a do desenvolvimento desigual.

Porém politicamente chama as forças vivas locais, perfiladas no campo progressista, a arrostarem o desafio de romper com o crônico subdesenvolvimento.

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