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Jailton Lira: Sobre a consulta para reitoria da UFAL

Jailton Lira*
 
No último dia 09 de agosto, foi concluída a consulta eleitoral para reitor e vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas com a vitória incontestável (em primeiro turno, com os votos da maioria absoluta dos eleitores composto por docentes, técnicos e estudantis) dos professores/as Josealdo Tonholo e Eliane Cavalcanti.

A consulta eleitoral foi organizada pelas entidades Associação dos Docentes (ADUFAL), Sindicato os Trabalhadores (SINTUFAL) e Diretório Central dos Estudantes (DCE), que discutiram em assembleia as regras da consulta e indicaram representantes para composição da comissão eleitoral.

O resultado em si representa a percepção da comunidade acadêmica acerca da atual gestão da Universidade, reprovada por ampla maioria dos segmentos.

Se existem avanços nesses últimos anos em termos de ampliação do diálogo com a sociedade, como enfatizam os defensores da administração, no que se refere ao relacionamento e condução interna das questões que dizem respeito à comunidade acadêmica, o saldo é bastante negativo.

Uma gestão que apesar de se apresentar publicamente como progressista, persegue e ataca os sindicatos, retirando direitos dos servidores – como no caso das rubricas judiciais de mais de 1.900 professores e técnicos -, desrespeita todas as decisões judiciais que asseguravam esses direitos e que não fez qualquer esforço no sentido de possibilitar um diálogo interno respeitoso com os diversos setores da instituição, desconstruiu as suas próprias bases de sustentação ao longo dos anos.

Estranhamente, parece que uma derrota tão acachapante não fez sequer com que o grupo político que compõe a atual administração realizasse qualquer autocrítica sobre os seus inúmeros equívocos.

A esse propósito, no fim de semana circulou nas redes sociais uma fotografia em que eu estava incluído (quando por ocasião do cumprimento que fui dar ao candidato eleito) como “comprovação de que a ADUFAL foi aparelhada” com o objetivo de desgastar a gestão da Universidade.

Ora, como presidente do sindicato, todos sabem que não participei da campanha eleitoral apoiando qualquer um dos/as candidatos/as.

Não que algo me impedisse.

Em anos recentes, os integrantes das direções dos sindicatos apoiaram abertamente os candidatos às eleições da reitoria e isso nunca foi motivo de desconfiança sobre a condução ética daquelas lideranças à frente do sindicato.

Apenas julguei que não seria conveniente participar- ainda que indiretamente -, das disputas eleitorais.

O fato é que essa denúncia leviana de um dos integrantes da gestão desrespeita a própria comunidade acadêmica, porque leva a crer que os segmentos foram manipulados ao fazerem uma avaliação negativa do trabalho da reitoria, conduzindo a presente resultado eleitoral.

Obviamente, creditar uma derrota tão fragorosa aos embates com o sindicato subestima a própria capacidade de análise dos segmentos que compõem a Universidade.

Também não considero que a comunidade acadêmica ingressou em uma onda “direitista”.

Esse mesmo grupo político costuma dividir a sociedade entre eles e os “outros”: eles, a esquerda progressista; os outros, a extrema direita, os oportunistas.

Contudo, para quem acompanhou as composições eleitorais e a maneira como as candidaturas se movimentaram no espectro ideológico, constatou que a realidade é bem mais complexa, no qual definições tão simplistas os desautorizam a fazer tais acusações aos seus adversários.

Ser progressista apenas no plano retórico é muito fácil.

Mas o que fica claro é que os ataques contra o sindicato irão se intensificar.

E uma vez que a reitoria silencia diante desse tipo de postura desequilibrada de um dos seus subordinados, só posso deduzir que esta é uma orientação direta da gestão central da Universidade, a não ser que a mesma se posicione de maneira contrária nos próximos dias (o que duvido francamente que faça, a julgar pelo histórico dos ataques).

Na realidade, a derrota da atual gestão da Universidade foi fruto exclusivo dos seus próprios erros.

Já que eles não souberam ganhar e conduzir sua administração com a serenidade necessária aos desafios existentes, espero que ao menos saibam perder com a maturidade dos que aprendem com as experiências.

Da minha parte, espero que a próxima gestão da UFAL escolha o caminho do diálogo e da defesa efetiva da Universidade pública e gratuita, sem as demagogias e sectarismos presentes nos discursos de algumas figuras que se proclamam de esquerda, mas que em suas práticas cotidianas nada deixam a desejar em comparação com a direita mais reacionária.   

Já a ADUFAL continuará mantendo a sua postura de independência e autonomia em defesa dos seus associados.

No fundo, parece que isto é o que realmente incomoda a alguns integrantes da atual gestão da instituição.
* Presidente da Associação dos Docentes da UFAL.
 
Maceió, 12 de agosto de 2019.

Respostas de 2

  1. A própria reitoria foi afetada no caso das rubricas, o que demonstra que não houve má fé por parte dela e sim o cumprimento de uma determinação judicial, sob o risco de prisão caso não cumprisse. Mas falando em prisão, a perseguição foi do sindicato em relação à gestão, ou esqueceram que esse sindicato, cuja direção não me representa, pediu na justiça a prisão da reitora e de seu vice. Ah, não podemos esquecer que esse sindicato pediu também processo penal para membros de sua base, bom, essa que aqui escreve, faz parte do grupo que esse sindicato quer ver na cadeia. Hora, falar em autocrítica depois desses desmandos, de deixar a base do sertão esperando uma assembleia que foi cancelada sem aviso prévio, de ter atuado na eleição de forma parcial ( os outdoors só foram retirados no final da campanha, as fake news, não foram desmentidas etc), e principalmente depois da falta de mobilização da base para o ato de hoje, é no mínimo imoral.

  2. Convém lembrar que a reitora Valéria Correia também foi atingida no processo das rubricas, o que comprova que não houve má fé, e sim o cumprimento de ordem judicial, sob pena de prisão em caso contrário. E por falar em prisão, esse sindicato, cuja direção não me representa, pediu a prisão da reitora e de seu vice, e ainda defendeu em reunião do consuni a abertura de processo penal contra membros de sua base, afinal, quem persegue quem então? Falar em autocrítica para um sindicato que atuou de forma parcial na consulta para reitor (só exigiu a retirada dos outdoors ao final da campanha, permitiu as fake news, apressou o pleito favorecendo um dos lados, etc), deixou a base do sertão esperando uma assembleia que foi cancelada sem aviso prévio, e principalmente, não mobilizou a base para o ato de hoje, é no mínimo imoral. Essa direção tem praticado muito bem a traição da classe, não tem conseguido juntar nem dez docentes em uma assembleia unificada, portanto não tem moral para permanecer enquanto tal.

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