Muitos de nós concordamos com o fato de estarmos vivendo um tempo assombroso no Brasil.
Mas o que muitos de nós ainda não sabemos é que temos nos aquilombado em grupos afins para alimentar a força. E a arte tem sido o canal de conexão mais prazeroso, por certo.
Neste território de amorosidades, falo de Flaira Ferro, artista plural, que me encanta de modo particular com sua musicalidade militante.
O álbum “Virada na Jiraya” precisa ser escutado até a última música por quem ainda acredita que merecemos um país cidadão.
Flaira é ousada: “Eu não peço licença pra chegar/ eu não sou obrigada.”
Expressa vivacidade: “Eu tenho fome, eu sou faminta/ Eu quero comer você, eu quero comer a vida”.
Libera a natureza social de quem conhece a própria história: “Mas é tanta raiva aqui dentro/ não dá pra ser acostumada/ herdei dos antigos e sei direitinho, a história que não foi contada.”
Porém, há afeto em sua voz, há autoaceitação também:
“Hoje me aceito, tenho mil defeitos, fiz deles piada…”
“Que nada nos distraia do amor/ Nem mesmo as vitórias da vida […] que tudo nos atraia ao amor.”
Fala ao coração com proposta altruísta de civilização: “Livre da agonia de chegar primeiro”.
Mas alerta sobre os riscos das crenças equivocadas: “Nascemos imensidão/ perdemos a conexão/ pela doença de ouvir a voz da falsa razão/ Abrindo os olhos sem acordar/ fechando o olho da intuição/ abrimos mão de enxergar o desabrochar da vida”.
E louva a luta dos estudantes brasileiros: “Na calada da noite os estudantes fazem o futuro amanhecer/ […]/ Pode apostar a rebeldia do aluno é santa/ Não senta na apatia da injustiça/ agita, inferniza e a rua avança/ Escola não tem medo de polícia.”
“Pode apostar, balbúrdia de aluno é o que educa/ ensina o governante que caduca/ retroceder não é uma opção/ respeito é pra quem dá educação”.
E anuncia a dor como processo de força, resistência e amadurecimento intrínseco: “Casca rompendo, a ganhar cicatriz”.
Adverte para o risco eminente: “Escravizar o modo de pensar/ Podar a força da imaginação/ tirando tudo, tira até tornar um ato voluntário a escravidão”.
Poderia ser um livro de poesia, se não fosse o álbum da Flaira Ferro que você precisa conhecer, por que ela tem até “olhar clínico para detectar cínicos” .
Estou na vibe e indico. Veja álbum aqui