Será difícil alguém ser punido pela invasão de posto de vacinação instalado em Jaraguá no último domingo, ainda mais porque as imagens mostram o tamanho e o valor dos carrões, elemento que já garante imunidade prévia aos manifestantes.
Os bolsonaristas fazem questão de mostrar a classe social a qual pertencem. E as instituições engatam uma marcha mais lenta, dormente, ainda que alguns personagens insistam em mostrar que as coisas podem ser diferentes e a lei afinal valer para todos.
Porém não é fácil.
Criminosos vestidos de democratas já buzinaram em frente a hospitais, pediram intervenção militar em frente ao quartel do Exército, impediram o direito de ir e vir e contra eles não se ouvem bombas do Bope nem cacete policial nem helicópteros com voos rasantes da segurança pública.
Se fossem sem-terras invadindo um posto de vacinação nas mesmas condições do último domingo em Maceió e o sangue estaria na canela e os discursos de parlamentares e governantes seria mais duro, justificando os bandidos-maloqueiros-vagabundos mortos.
Mas são os mais ricos e escolarizados a darem o próprio péssimo exemplo, covardemente impedindo idosos de se vacinarem.
Tudo a céu aberto mas de lá do céu entidades têm olhos mais iguais para algumas pessoas.
Se fossem os pescadores de Garça Torta invadindo o posto de vacinação de Jaraguá em protesto contra o despejo de suas casas, o Bope teria atirado bombas para dispersar a multidão.
Mas não eram pescadores. Eram viventes da nossa elite cujo patriotismo de araque permite negar a vacina e aceitar a cloroquina; trocar a ciência pelo charlatanismo; fazer a defesa da aglomeração e assistindo 90% dos leitos de UTI para Covid-19 lotados além de bebês em luta pela vida na Santa Mônica, com os pais do lado de fora para evitar contaminação.
Nada disso porém é motivo para que helicópteros da Secretaria de Segurança Pública façam voos rasantes para espantar não uma manifestação democrática e sim um elogio ao fascismo, porque quem defende líderes sem limites quer liberdade para o massacre. Quem protesta assim tem desejo de matar não de falar da fome ou do desemprego na pandemia.
Daí a dificuldade para distribuir castigos. Se fossem os mais pobres estava tudo arranjado. Bastavam uns tiros, uns corpos, um pau no lombo.
Diabos é que essa gente está na sala do poder. E com eles é diferente. Ou tudo tem de ser diferente.
Ou não é?