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Interesse pelas terras dos Palmares transformou quilombo liderado por Zumbi em “caso de polícia”

Edison Carneiro (1912-1972), antropólogo e folclorista, incrementa ainda mais o debate sobre o Quilombo dos Palmares e a figura- quase heróica- de Zumbi, o negro coroinha que fugiu de Porto Calvo para se tornar um arquétipo dos que buscam quebrar de todos os grilhões.

Ele escreveu Guerras de los Palmares, publicado pela 1a vez no México em 1946 e traduzido no Brasil como “O Quilombo dos Palmares” pela Companhia Editora Nacional.

Carneiro defende que a guerra para a tomada dos Palmares das mãos dos negros liderados por Zumbi também era motivada pela fertilidade daquele “cordão de mata brava” entre o Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até “a zona norte do curso inferior do São Francisco, em Alagoas”, cercadas de rios dos lados pernambucano e alagoano.

Os primeiros a terem interesse- ainda não pelas terras e sim na destruição daquele aglomerado de negros fugidos estimulando mais gente à liberdade- foram os holandeses. Enviaram até um espião, Bartolomeu Lintz (ou Lins) para ver o tamanho das defesas do quilombo. Não conseguiram muita coisa.

Em 1644, Rodolfo Baro liderou uma expedição que fracassou, mas conseguiu escalar a fortaleza palmarina, cercada de madeira; em 1645, um capitão Blaer fez uma operação para reconhecer as forças. Os negros recuaram para as matas.

Os holandeses desistiram da empreitada, foram expulsos do Brasil e, em 1654, a campanha contra o quilombo virou “caso de polícia”.

Pouco se sabia. As matas eram fechadas, os caminhos pouco conhecidos. Os governadores se organizavam para “adotar medidas mais enérgicas”.

Em 1667, o mestre de campo Zenóbio Accioly de Vasconcelos faz estes trabalhos de reconhecimento. Atacou alguns mocambos ligados ao quilombo, mas a retaguarda dos palmarinos parecia ser gigante demais.

Em 1671, o governador Fernão Coutinho mandou abrir caminhos para o quilombo; um ano depois, Jácome Bezerra marcha com um plano que cerca Palmares por três lados. Os palmarinos venceram.

O capitão-mor de Porto Calvo, Cristóvão Lins, organiza uma expedição de represália porque os negros incendiaram seus canaviais.

Em 1675, o sargento-mor Manuel Lopes penetra os Palmares e chega ao mocambo Macaco, considerada a capital do quilombo. Foi a primeira derrota dos negros. Presume-se que nesta batalha Zumbi tenha ficado ferido na perna.

Em 1676, o capitão-mor Fernão Carrilho sufoca o quilombo.

Mas, nem ele nem Zumbi caem.

O rei Ganga Zumba faz um acordo de paz em 1678. Zumbi, “o general das armas” do quilombo “decidiu continuar a lutar” e “desde então iniciou-se uma nova fase na luta”

Em 1679, o Governo envia a “expedição punitiva” de Gonçalo Moreira que não respeitavam o acordo de paz de Ganga Zumba.

A guerra se intensifica. Em 1680, com André Dias abrindo entradas para o quilombo, continuado por Manuel Lopes (1682), Fernão Carrilho (1680), João de Freitas da Cunha (1684) e novamente Fernão Carrilho, em 1686.

A área do quilombo diminuía. A resistência dos palmarinos também.

Mas o quilombo ainda estava de pé.

Desde 1677, o sargento-mor Manuel Lopes abastecia os comboios para a destruição de Palmares e impedia que os negros fugidos alimentassem os sonhos de liberdade no alto da Serra da Barriga.

Foi a partir daí que a luta contra os negros era, também, a posse pelas ricas terras de Palmares.

E os moradores do entorno colaboram mais, de olho nas terras.

E o interesse na divisão destas terras embalava o sonho de destruição daquele ajuntamento de negros.

Em 1692, os paulistas de Domingos Jorge Velho são derrotados pela primeira vez. Mas, não haveria outro fim para Palmares.

Em 1694, ajudado pelo mestre de campo Sebastião Dias e Bernardo Vieira de Melo, Domingos Jorge Velho está frente a frente a cerca de 5.434 metros “com torneiras a dois fogos a cada braça, com flancos, redutos, redentes, faces, e guaritas’, protegida por fojos e estrepes, que, juntamente com a
posição em que se encontrava, “lugar forte por natureza”, a tornava inexpugnável”.

Os canhões explodiam as últimas resistências. Zumbi ainda estava no reduto do Macaco, mas o lugar é tomado em 6 de fevereiro de 1694.

Zumbi sai dali, continuava sua luta pela vida até ser traído. Ou cometido suicídio heroico, segundo as hipóteses listadas por Edison Carneiro.

O consenso é que o quilombo deixa de existir. Vira história.

Zumbi também.

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